Um grupo de produtores de leite do Ceará anunciou nas redes sociais que realizará um protesto no próximo sábado, 4, contra o que consideram baixos preços pagos pelo produto. A média regional paga pelo leite no Ceará é de R$ 2,31 por litro, com mínima de R$ 1,80 e máxima de R$ 2,61.
A mobilização dos produtores está prevista para acontecer em frente à sede da Betânia Lácteos, no município de Morada Nova (a 168 km de Fortaleza). A empresa é a principal indústria de laticínios do Estado.
Conforme o grupo, o preço pago pelo litro do produto pela companhia tem sofrido reduções seguidas e injustificáveis e impactado a economia das regiões produtoras de leite do Ceará.
Os produtores também afirmam que o alto custo de produção associado aos baixos preços pode inviabilizar a atividade.
O produtor Pedro Girão, que tem uma propriedade em Morada Nova, cita, por exemplo, as despesas feitas somente com alimentação animal. “Enquanto o preço do leite baixou, a ração subiu. pago R$ 10 a saca, mas gasto R$ 12 no total para alimentar uma vaca. Estamos sempre operando no vermelho e daí a razão do nosso protesto”, argumenta.
“Devemos reunir produtores de todo o Vale do Jaguaribe, incluindo Limoeiro do Norte, Russas, Quixeré, Tabuleiro do Norte e São João do Jaguaribe, além de Morada Nova , que estão sem condições de trabalho. Até prefeitos da região têm fornecido transporte para os criadores mais humildes que não tem como vir”, afirma o produtor.
Procurada sobre as queixas dos produtores a Arvoal Lácteos Nordeste S/A, detentora da Betânia, respondeu em nota que “está trabalhando com o Sindicato da Indústria de Lacticínios e Produtos Derivados do Ceará (Sindlacticínios) para, juntos, chegarem em um entendimento e uma melhor decisão para todas as partes envolvidas”.
Por sua vez, o presidente do Sindilacticínios, José Antunes Mota, afirma que mesmo com a redução recente do preço do litro do leite, o produto acumula valorização de 29% entre janeiro de 2022 e janeiro deste ano. Ele argumenta, ainda, que a empresa alvo do protesto, a Betânia trabalha com o melhor preço do Nordeste.
“Nós, sindicato e empresa, estamos em negociação com os produtores. Nós já temos uma proposta que vamos apresentar a um grupo de líderes desse movimento. E eu vou jogar essa proposta para negociação que caso seja aceita vai representar uma elevação no preço do leite ainda na primeira quinzena deste mês”, diz Mota.
Ele acrescenta, por fim, que a entidade trabalha na criação de uma espécie de conselho que definirá um preço-base para o litro do leite no mercado. “Seria o Conseleite, baseado em uma experiência que já vem tendo êxito há 30 anos no Paraná. Lá não há nenhuma questão de litígio entre produtores e laticinistas”, pontua.
Adriano Queiroz / O POVO