Pesquisa com colaboração da UFC aponta que índios tupis habitavam sertão paraibano antes da chegada dos portugueses

A pesquisa se baseou na análise de ossos humanos encontrados no Sítio Tambor, localizado no município de Cuité
14:53 | 14 de out de 2021 Autor: Anuário do Ceará
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A pesquisa se baseou na análise de ossos humanos encontrados no Sítio Tambor, localizado no município de Cuité

Uma pesquisa que conta com colaboração científica do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC) pode mudar as perspectivas históricas acerca do povoamento de parte do interior nordestino.

A análise de material humano encontrado em um sítio arqueológico da Paraíba aponta que a etnia indígena tupi já habitava o sertão paraibano há aproximadamente 600 anos, ou seja, antes da chegada dos colonizadores portugueses ao território brasileiro, ocorrida em 1500.

Até então, acreditava-se que os tupis ‒ grande grupo formado por índios que falam (ou falavam) línguas pertencentes ao tronco linguístico tupi ‒ tinham chegado ao interior após serem expulsos do litoral pelos europeus. De acordo com esse entendimento, o povoamento pré-colonial do sertão da Paraíba havia se dado apenas por meio dos índios cariris e, posteriormente, dos índios tarairiús. Agora, há evidências também da presença tupi, reforçando a tese de um povoamento por vários grupos humanos diferentes.

A confirmação foi feita através de datação de ossos humanos encontrados no Sítio Tambor, localizado no município de Cuité (PB), utilizando-se o método carbono 14. A colaboração científica do NPDM se dá com o Prof. Juvandi de Souza Santos, coordenador do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (LABAP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Os itens coletados no sítio são enviados ao NPDM, que faz a análise de vários aspectos do material. Já a datação foi feita por uma empresa dos Estados Unidos.

NOVOS CONHECIMENTOS ‒ "O Prof. Juvandi fez a descoberta dos 'cemitérios' e o desenterramento dos ossos e utensílios dos paleoíndios, e nós estamos fazendo a pesquisa das biomoléculas presentes no material dos desenterramentos e o sequenciamento do DNA dos ossos pesquisados", explica o coordenador do NPDM, Prof. Odorico de Moraes.

Segundo Moraes, o projeto poderá contribuir também para gerar novos conhecimentos relacionados à origem do povo cearense, uma vez que, anteriormente, não existia delimitação geográfica entre os estados e as etnias ocupavam grandes extensões de terra. "Buscamos esse material na Paraíba por estar próximo ao Ceará e, também, porque não existe no nosso Estado nenhum arqueólogo especializado em bioarqueologia", esclarece.

O trabalho de análise dos materiais está sendo abordado na dissertação de mestrado do aluno Sílvio Teixeira, do Programa de Pós-Graduação em Medicina Translacional da UFC. A pesquisa conta também com a participação de pesquisadores do Laboratório de Farmacogenética do NPDM. O material deverá ser utilizado em outras pesquisas sobre povos ancestrais que habitaram a região Nordeste. Além disso, outros sítios arqueológicos da Paraíba poderão, futuramente, fornecer novos elementos para análise.

"Aqui na Paraíba, de forma geral, a literatura tem colocado que o grupo humano tupi teria sido 'empurrado' para o interior com a colonização europeia. Até então, aceitávamos isso quase como uma lei geral. Essa datação nos mostra que há pelo menos 600 anos esse grupo já estava no interior. Temos evidências concretas da presença tupi em inúmeros locais do sertão da Paraíba. Essa datação veio consolidar isso", salienta o Prof. Juvandi.

O arqueólogo pondera que mais estudos sobre o assunto deverão ser desenvolvidos nos próximos anos. Só assim, segundo ele, será possível ter elementos suficientes para se obter respostas mais conclusivas. Ainda neste ano, por exemplo, serão enviados para datação materiais de outros dois sítios arqueológicos da Paraíba que os pesquisadores acreditam ter sido habitados pelos tupis.

Ele destaca ainda a convergência de interesses entre o LABAP/UEPB e o NPDM com relação à temática da bioarqueologia. Nos próximos meses, a parceria entre o núcleo e o laboratório deverá ser formalizada por meio de um convênio.


Prof. Odorico de Moraes, coordenador do NPDM / UFC Notícias