Iniciados em 2015 nos laboratórios do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os estudos com o uso de pele da tilápia continuam gerando novas aplicações na área da saúde. Desta vez, está auxiliando na recuperação cirúrgica de crianças nascidas com síndrome de Apert, causada por uma mutação genética que leva, dentre outras coisas, à sindactilia (quando os dedos das mãos ou dos pés nascem juntos).
A técnica está sendo desenvolvida pelo Hospital Sobrapar, de Campinas, em parceria com o médico Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) e coordenador-geral das pesquisas com pele da tilápia iniciadas no NPDM.
A cirurgia, que está utilizando peles de tilápia liofilizada (desidratadas, esterilizadas e embaladas a vácuo), já foi feita de forma bem-sucedida nas duas mãos de três crianças entre 3 e 6 anos previamente selecionadas, entre os dias 12 e 14 de setembro. A expectativa é que outras sete crianças passem pelo mesmo procedimento nos próximos meses.
COMO É FEITO
Na versão tradicional, e dependendo do tipo de caso, a técnica para a separação dos dedos no caso da sindactilia implica a realização de várias cirurgias. O pós-cirúrgico conta sempre com auxílio de curativos comuns e, uma vez separados, os dedos recebem enxertos de pele para preencher a área danificada que fica.
A complexidade do procedimento exige a troca constante dos curativos, provocando desconforto, dores e muito trabalho ao longo do período pós-cirúrgico. Além disso, o processo de autoenxerto nem sempre é satisfatório devido às más condições da área que vai receber a pele. Isso, por sua vez, também aumenta o custo do tratamento.
Novo procedimento: O novo procedimento utiliza a pele de tilápia liofilizada no lugar dos curativos. Em um processo parecido ao que ocorre com as vítimas de queimadura, o curativo da pele da tilápia reduz a quantidade de vezes que precisa ser trocado e, consequentemente, a dor e o desconforto do paciente. Mas não apenas isso. O contato com a pele da tilápia promove a transferência do colágeno para os dedos do paciente, o que traz diversas vantagens na pós-cirurgia.
PELE DA TILÁPIA
O procedimento é mais um uso da pele da tilápia no campo da saúde. As pesquisas foram iniciadas em 2015, empreendidas pelo médico Edmar Maciel, do IAQ e do Instituto Dr. José Frota, em parceria com a UFC, por meio do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), coordenado pelo Prof. Odorico de Moraes.
A fase pré-clínica durou 18 meses na UFC, contando com 11 etapas, entre as quais a esterilização da pele, os estudos toxicológico e microbiológico e os testes em animais. O processo final de esterilização necessita de irradiação, realizada no Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (IPEN-SP). Só a partir de todos esses processos, a pele da tilápia começou a ser testada em pessoas, em 2016, inicialmente no IJF.
Os estudos levaram à criação de diversos produtos, como a pele no glicerol (ou glicerina), a pele liofilizada (desidratada), a matriz dérmica e a extração de colágeno. A pele no glicerol vem sendo aplicada no tratamento de queimaduras e em usos ginecológicos, assim como a pele liofilizada. Já a matriz dérmica e a extração de colágeno têm aberto amplo campo de possibilidades para a utilização da pele da tilápia.
A matriz dérmica, também denominada scaffold, é um arcabouço feito de colágeno puro, obtido através de um longo processo laboratorial de remoção das células do peixe. É por meio desse material que migram os elementos da cadeia da cicatrização da pele.
As pesquisas estão sendo realizadas em 13 especialidades médicas, envolvendo a matriz dérmica ou scaffold, entre elas: cirurgia geral (hérnia abdominal), cirurgia plástica (queimaduras e prótese mamária), cardiologia (válvulas e vasos), neurologia (recobrimento de meninge), urologia (reconstrução de uretra e doença de Peyronie), otorrinolaringologia (perfuração de tímpano), endoscopia (fístula esofágica), oftalmologia (lesões de córnea), dentre outras.
Com informações do Portal UFC Notícias