O município de Monsenhor Tabosa, em ação pioneira no Nordeste, reconheceu a língua Tupi-nheengatu como cooficial da cidade. A língua é falada pelos povos Potiguara, Tabjara, Gavião e Tubiba Tapuia, indígenas daquela região, e, com a lei, deve ter seu ensino instituído nas escolas da rede municipal. A ação é resultado direto da luta dos povos indígenas pelo reconhecimento e resgate da sua cultura. Agora, será criado programa comunitário com agentes formados na língua nativa para atuar em escolas da rede municipal e comunidades indígenas.
A líder comunitária e antropóloga, Teka Potiguara, destaca que este é um marco para o Estado do Ceará, que vem avançando no reconhecimento das identidades, da memória e da história dos povos indígenas deste território.
“Aqui em Monsenhor Tabosa, nós temos cerca de 4 mil descendentes de povos indígenas das etnias Potiguara, Tabajara, Gavião e Tubiba Tapuia e sei que esta ação tem um reflexo muito importante, tanto para o tempo presente quanto para as próximas gerações”, pontua Teka, que pesquisa e escreve sobre a língua Tupi-nheengatu há mais de 20 anos. “Nós, povos indígenas, estamos sistematizando uma língua que nunca morreu e que, inclusive, é de onde vem a maioria dos nomes dos municípios cearenses. É uma grande conquista do nosso povo oficializar a língua Tupi-nheengatu e conseguir levar seu ensino também para as escolas da rede municipal, para além das escolas indígenas”.
Atualmente, o município de Monsenhor Tabosa tem mais de 100 professores e lideranças que dominam a língua Tupi-nheengatu e que contribuem para que outras gerações sigam aprendendo o idioma da família de línguas Tupi-Guarani.
“Esta conquista sinaliza o compromisso do Estado do Ceará com as políticas para nós, povos indígenas, que reivindicamos e lutamos incansavelmente pelo nosso território e para manter viva a nossa cultura em seus diversos aspectos. A nossa língua é nossa cultura, nossa essência. É a partir dela que fortalecemos nossa identidade enquanto povo”, destaca Ceiça Pitaguary, coordenadora da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) e assistente técnica da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir) da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS).
Ceiça ainda lembra: “Para além desta iniciativa pioneira em Monsenhor Tabosa, nós também temos realizado o intercâmbio de saberes entre as etnias, que estão em diferentes municípios e seguem aprendendo juntas e pesquisando sobre sua cultura”, reflete.
No Ceará, vivem 15 povos indígenas em 18 municípios. São comunidades que guardam com orgulho suas manifestações culturais e tradições milenares e que lutam pelos seus territórios, costumes e tradições.