Diante do avanço da pandemia de Covid-19 e seus impactos na economia brasileira, especialmente no segundo trimestre deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou as previsões macroeconômicas e divulgou queda esperada de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) para 2020 e alta de 3,6% para 2021. Em março deste ano, as estimativas eram de queda de 1,8% em 2020 e crescimento de 3,1% em 2021.
O estudo pressupõe o início de uma gradual flexibilização das restrições à mobilidade e ao funcionamento das atividades econômicas a partir de junho. Nesse cenário, a projeção é de queda de 10,5% no segundo trimestre, com retração de 13,8% na indústria, 10,1% nos serviços e 11,2% no consumo das famílias. Para o terceiro e o quarto trimestres, projeta-se recuperação da atividade econômica.
O mês de abril foi considerado o fundo do poço, com sinais de recuperação da economia a partir de maio. Os indicadores econômicos confirmam essa avaliação. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) avançou 5,9% em maio, assim como o nível de utilização de capacidade instalada (NUCI) do setor, que passou de 57,3% em abril para 60,3% em maio. Dados de consumo de energia industrial permitem identificar alta em diversos segmentos, como veículos automotores (aumento de 60,9%), papel e celulose (26,9%), metalurgia (17,9%) e produtos de metal (13,3%). No varejo, o Índice de Confiança do Comércio (ICOM) apresentou alta de 10,1% em maio, após retração de 30,5% em abril. O setor automotivo teve um incremento de 7,7% nas vendas em maio.
As medidas de isolamento social, implantadas a partir de março para a contenção da epidemia de Covid-19, interromperam uma série de atividades produtivas no País. A flexibilização dessas medidas, em combinação com as políticas de preservação de emprego, renda e produção adotadas, devem permitir a gradual recuperação da economia ao longo dos próximos meses. Com isso, os serviços devem recuar 5,8% em 2020, mas crescer 3,7% em 2021. No caso da indústria, a expectativa é de queda de 7,3% este ano e alta de 4% no ano que vem. A agropecuária segue como destaque positivo. A equipe da Conjuntura revisou para 2% o crescimento do PIB do setor agropecuário este ano por conta da alta de 3% no PIB da lavoura. A alta do setor deve contribuir também para atenuar a queda da indústria por meio de seu impacto sobre a produção de alimentos, segmento com maior peso na indústria de transformação brasileira.
Pelo lado da demanda, os investimentos devem ser o componente mais afetado, com queda de 9,7% em 2020, mas também com crescimento mais elevado no ano que vem (6,8%). As importações, influenciadas pela desvalorização cambial e pela redução do nível de atividade, devem recuar 6,5% este ano e as exportações 6,4%.
De acordo com o diretor-adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Marco Antônio Cavalcanti, do ponto de vista da renda das famílias, o valor das transferências do programa de auxílio emergencial a pessoas em situação de vulnerabilidade, que somava R$ 76,9 bilhões até o final de maio, deve ter produzido um efeito importante sobre a demanda, especialmente de produtos de primeira necessidade. Para efeito de comparação, a massa de rendimentos do trabalho principal recebida mensalmente pelas pessoas ocupadas no setor informal – empregados no setor privado sem carteira, empregadores sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e trabalhadores por conta própria sem CNPJ –, no trimestre terminado em fevereiro, antes do agravamento da crise, foi de R$ 49,7 bilhões. Ainda assim, o consumo das famílias tende a ser afetado pelo impacto negativo da crise sobre o mercado de trabalho e pelo aumento da incerteza, caindo 6,9% em 2020. Para 2021, espera-se aumento de 3,8%.