Especialistas apontam desafios da nova gestão do Iphan no Ceará

Mudanças nas superintendências regionais do Iphan têm gerado debates sobre o papel do instituto
17:36 | 05 de out de 2016 Autor: Anuário do Ceará

A advogada Geovana Cartaxo assumiu a gestão regional do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), há um mês, substituindo Diva Maria Freire Figueiredo. Professora universitária e atuante no ambientalismo estadual, a nova superintendente foi candidata ao senado nas eleições de 2014, pelo PSB, recebendo 66 mil votos, mas não foi eleita. Geovana chega à gestão do Iphan em um momento político (e econômico) delicado no País.


A mudança na gestão do Iphan-CE acompanha alterações que vêm sendo realizadas em superintendências regionais do órgão em outros estados, iniciadas no âmbito nacional, após a exoneração da arquiteta mineira Jurema de Sousa Machado, que presidia o Iphan desde 2012. Quem, agora, ocupa a vaga deixada pela arquiteta é Kátia Santos Bogéa.


Kátia assumiu o cargo em junho deste ano, quando o presidente Michel Temer ainda ocupava o cargo de forma interina. Ela é funcionária de carreira do Iphan, já tendo sido superintendente do Instituto no Maranhão. Outras substituições de chefias foram feitas em locais como Amazonas, Acre, Bahia e Rio de Janeiro - estas duas últimas, com maior repercussão.


Em 31 de agosto, o Instituto Arquitetos do Brasil (IAB) publicou uma carta aberta ao ministro da Cultura, Marcelo Calero, questionando as decisões do Governo Federal. Segundo o documento, as alterações estariam ocorrendo “baseadas em meros acordos de acomodação político-partidários, sem respaldo técnico correspondente à importância da função”. No âmbito local, o presidente do IAB-CE, Custódio Santos, ressalta as mudanças feitas nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro, mas não acredita que no Ceará esta cena se repita.


“O Ministério da Cultura ainda patina, o Iphan também foi ameaçado de extinção”, comenta o arquiteto e ex-superintendente do Iphan-CE, Romeu Duarte, referindo-se à rápida eliminação do MinC logo que Temer assumiu a presidência interina, em maio deste ano. A decisão foi revogada, contudo. Para Romeu, é preciso que se enxergue a Cultura não apenas como uma estrutura que serve “para gastar dinheiro”. “A Kátia Bógea é muito competente, conhece profundamente as estruturas do Iphan. E a Geovana encontrou a casa organizada, talvez até com mais recursos do que no meu tempo”, acredita o ex-gestor do órgão.

 

Demandas

“Eu entendo que o trabalho se dá no sentido de acompanhar o processo de gestão de sítios históricos, que são extremamente complexos. Mas se torna algo complexo porque o Ceará não conta com uma equipe de técnicos robusta, com condições de fazer qualquer tipo de acompanhamento mais específico. O Iphan sempre ressentiu de técnicos”, critica Romeu.


Para o arquiteto, é necessário que que haja uma ampliação no quadro técnico do órgão, em decorrência da ampliação das demandas que o Iphan recebe. “Não temos apenas o patrimônio material. O imaterial e, agora, as paisagens culturais também entram nas demandas do órgão. O número de técnicos e o perfil dessas pessoas precisa passar, também, por uma atualização.”


Para a arquiteta Clélia Monastério, mestre em Gestão do Patrimônio Histórico, o Iphan precisa olhar mais para a Capital, passando pelos bens materiais e imateriais. “Fica tudo muito no âmbito da Prefeitura e do Governo”, critica. Já o professor de História do IFCE, Tulius Falcão, acredita que uma das principais demandas do Iphan é trabalhar a educação patrimonial da população. “Essa conscientização patrimonial é urgente. Carece de um trabalho mais intenso. Mesmo quando os bens já são tombados, por exemplo, muitas famílias deixam esses equipamentos se destruir. Elas não se apropriam disso”.