O governador Camilo Santana (PT) não pretende abrir mão do controle acionário do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) na parceria que começa a se formalizada nesta quarta-feira, 22 de março, com a assinatura de um memorando de entendimentos entre a Cearáportos – a estatal cearense que administra o Porto – e a Port of Rotterdam, a gestora do porto holandês.
“A lógica é não olhar separadamente para cada segmento do Complexo. ZPE (Zona de Processamento de Exportações) separada de área industrial e porto não. O olhar é para o complexo como um todo”, afirmou em entrevista ao jornalista Jocélio Leal, do O POVO. A companhia holandesa presta consultoria para a Cearáportos desde 2015 e deixou claro que o interesse pelo Ceará é mediante a garantia de unificação da gestão do Cipp.
Por esta razão, o governador anunciou que irá atender a recomendação e definir uma empresa responsável pela área. Tanto poderá ser a Cearáportos com poderes ampliados, como poderá ser criada uma nova estatal, a Cipp S/A. Camilo quer tudo definido ainda este ano. A urgência é dele e dos possíveis futuros sócios. Os holandeses não querem entrar 2018 com isto pendente.
A possível nova estatal unificaria a gestão do Complexo, a principal condição da empresa holandesa para entrar no Pecém, um clamor histórico dos empreendedores da área.
A dispersão de responsabilidades comprometeria a eficiência do Cipp. Hoje, além da Cearáportos (vinculada à Secretaria da Infraestrutura, Seinfra), têm o Pecém na alçada duas vinculadas da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) – ZPE e Agência do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece). “Para o investidor é mesmo muito confuso”, reconhece o presidente da Ceará Portos, Danilo Serpa.
O POVO apurou que a Port of Rotterdam contratou a Deloitte como consultoria responsável pela avaliação dos ativos do Governo cearense no Pecém – terrenos e porto. O Governo cearense fará o mesmo. Vai escolher dentre uma das chamadas Big Four – Deloitte (já com a holandesa), EY, PwC ou KPMG - ou procurar o IFC, braço privado do Banco Mundial.
Para Camilo, a marca de Roterdã é importante pela marca, experiência e credibilidade no ramo. “Não tenho dúvidas de que irá abrir as portas”. Ele avalia que será importante também para a holandesa por conta da localização. O governador considera que o parceiro privado será o responsável pelos investimentos na infraestrutura do Porto, e não mais o Tesouro estadual.
No fim da semana passada, a propósito, houve impasse entre a Secretaria da Infraestrutura e o consórcio contratado para a obra de ampliação. Alegando falta de pagamento, o consórcio parou os serviços. O secretario Lúcio Gomes, que integra a delegação cearense na Holanda, minimizou o episódio e declarou que o impasse foi negociado e as obras voltaram ao ritmo normal. Segundo ele, mediante promessa de solução até o fim do mês.
O porto do qual Pecém se aproxima e o maior da Europa em movimentação de carga e é conhecido pela eficiência. Tanto que cobra bem por ela. Roterdã disputa mercado com outros cerca de 10 players da Europa, mas não briga no preço. Segundo Duna, aposta na qualidade dos serviços e nos acessos que oferece. “A conta deve ser feita no custo global de logística”, diz.
Estudos elaborados pela Port of Rotterdam apontam a operação da Transnordestina como essencial para o crescimento do Complexo do Pecém.