Após quatro anos sem uma baixa na taxa básica de juros (Selic), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou a redução de 0,25 ponto percentual. A taxa de juros estava em 14,25% ano ano (a.a.), no primeiro corte desde outubro de 2012, por decisão unânime, o comitê decidiu baixar a taxa para 14% a.a., sem viés. O tímido recuo, que já era esperado, agradou a maioria dos agentes do mercado financeiro e entidades de classe.
O presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Junior, diz que, ainda que modesta, a redução da Selic inicia um novo ciclo de contenção dos juros, benéfico para o cenário econômico atual. “O passo modesto no início dos cortes de juros mostra que o Banco Central ainda vê riscos e que o ritmo de desinflação ainda é incerto, especialmente por conta da persistência da inflação de alimentos que pode ter efeito sobre os demais preços da economia”.
O economista Vitor Leitão explica que o comunicado do Banco Central cita alguns pontos importantes, como atividade econômica abaixo do esperado no curto prazo, retomada gradual da atividade econômica, elevado nível de ociosidade, inflação mais favorável que o esperado. “Enfim, o BC ratificou o que o mercado já indicava. O impacto de 0,25 p.p. tende a ser pequeno, mas o seu simbolismo é relevante”.
Ele acrescenta que, com o começo de novo ciclo de baixa da Selic, aliado à retomada dos índices de confiança, arrefecimento da inflação, reformas importantes em discussão no Congresso, cenário político menos instável, expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), são sinais positivos. “Isso nos leva a crer que dias melhores estão chegando”.
Para o economista da Órama Investimentos e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Alexandre Espirito Santo, a decisão do Copom era previsível e foi acertada. “Esperávamos esse início de ciclo de queda com esses 25 pontos, o que demostra uma cautela adequada por parte do BC, já que a inflação ainda está muito acima da meta. Nossa projeção é que na próxima reunião, de novembro, o comitê já possa ser um pouco mais ousado e promova uma redução maior, de 0,5 ponto, e que se estenderá ao longo de 2017”, completa, ressaltando que a queda é bem-vinda, pois vai colaborar para a recuperação da economia, que já deve ocorrer modestamente neste trimestre.
De olho nos EUA
O economista chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, diz que no curto prazo não haverá benefício substancial para o bolso do consumidor, vez que a redução é insignificante. “O importante é a mensagem que o BC passa, ou seja, como vai ficar a curva dos juros”, diz, considerando que o preocupante é a possibilidade de alta na taxa de juros nos Estados Unidos. Explica que um aumento da taxa de juros tornaria os títulos do governo norte-americano mais atraentes, causando fuga de capitais de países emergentes. Perfeito considera que a redução impacta decisões de investimento no futuro.
Saiba mais
Nota do BC mostra o que foi levado em conta para a redução da Selic. “Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros”.
Acrescenta que o comitê entende que a convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018 é compatível com uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias. “O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5%”.