O capítulo especial deste ano descreve em palavras, cores e formas o Museu de Arte da UFC, o Mauc. Nascido há 60 anos pelo ímpeto de Martins Filho, fundador e primeiro reitor da Universidade do Ceará, mais tarde Universidade Federal do Ceará (UFC), o Mauc inaugurou em Fortaleza a experiência museológica. Uma estreia recente, portanto. Para celebrar esta efeméride, a repórter Bruna Forte percorreu a gênese do Mauc, desde os primeiros esboços para a composição do acervo inicial até os dias de hoje, quando o Mauc reúne cerca de sete mil obras. Dessas, 1.544 peças da coleção de arte popular e 5.184 de artes plásticas. Pérolas do acervo ilustram não apenas o capítulo, mas constituem a base para o projeto gráfico de toda a edição.
Ante o olhar terno da Virgem do Rosário de Bartolomé Esteban Murillo, o magnético jogo de luz e sombra das pinturas de Diego Rodríguez de Silva y Velázquez e a pungente religiosidade de EI Greco no Museu del Prado em Madrid, Antônio Martins Filho (1904-2002) silenciou. O ano era 1949. Então presidente da Embaixada Acadêmica Clóvis Beviláqua, integrada de estudantes da Faculdade de Direito, o cratense se demorou em galerias na Espanha e na França em sua primeira viagem ao Velho Mundo, embevecido pelas obras de arte outrora ilustradas apenas em catálogos e revistas que folheava curioso.
Em Paris, o grupo foi acrescido de um membro ad hoc: o pintor fortalezense Antônio Bandeira. Anos depois, em 1952, o jurista retornou à Europa e visitou os mais variados museus italianos — os de Florença, Milão, Gênova… Martins Filho voltou ao Brasil com o corpo vibrando em todas as frequências possíveis, instigado por dois desejos que precisavam de carona para a existencialização: fundar uma universidade cearense e criar um museu para a sedimentação da cultura de um povo.
A Universidade Federal do Ceará (UFC) — inicialmente, Universidade do Ceará — e o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) nasceram num mesmo fôlego: ainda na década de 1940, Martins Filho protagonizou o movimento pela implantação universitária no Estado. Primeiro reitor da UFC, fundada ao 16 de dezembro de 1954, o intelectual forjou a construção do Mauc como ourives que esculpe delicada joia. Em diálogo com os pintores Heloysa Juaçaba (1926-2013), Zenon Barreto (1918-2002) e Antônio Bandeira (1922-1967), o reitor convidou o artista maranhense Floriano Teixeira (1923-2000) para integrar a equipe da UFC como desenhista e assessor de arte.
Teixeira atuou, sobretudo, como pesquisador — percorreu diferentes regiões do Nordeste brasileiro e coletou objetos como ex-votos e peças de arte sacra, além de telas de artistas plásticos do Ceará, posteriormente incorporados ao acervo museológico. No dia 25 de junho de 1961, a ideia ganhou corpo e o Mauc foi inaugurado.
Primeiro museu de arte do estado do Ceará, o Mauc ergue-se em pleno azul no cruzamento das avenidas da Universidade e Treze de Maio. “Destinei um dos imóveis próximos à Reitoria para a sede do Museu e nele foram feitas as adaptações estritamente necessárias, para que pudéssemos instalar oficialmente o Museu de Arte”, recordou Martins Filho na obra memorialística “O outro lado da História”, de 1983. Perante os jugos críticos dos opositores do reitor, o museu seria mais um orçamento do intelectual “preocupado em esbanjar dinheiro do povo com o patrocínio de loucas iniciativas de ordem nitidamente cultural”, como descreveu no livro “Elogio aos Doutores e outras mensagens” (1995). “Mas, acontece que eu pensava diferentemente e, por sorte, estava falando no imperativo, como o principal responsável pela Universidade.”
As cartografias alinhavadas por Floriano Teixeira em Pernambuco, Rio Grande do Norte, interior da Bahia, Cariri e Canindé ao longo de 17 dias o consagraram como primeiro diretor do Museu, ainda nos idos de 1961. “Excelente diretor artístico, mas um péssimo burocrata”, nas palavras de Martins Filho, Teixeira e outros artistas e intelectuais aprenderam a gerir o museu como o caminhante do poeta e espanhol Antonio Machado (1875-1939) nos versos “Proverbios y cantares XXIX”, em Campos de Castilla (1912), aprendeu a caminhar: “No hay camino,/ se hace camino al andar”. Entre notas de bonecos de feiras rasgadas e pequenas despesas, o Mauc se constituiu como organismo vivo e erigido a muitas mãos.
Ao número 2854 da Avenida da Universidade, no bairro Benfica, o Mauc inaugurou em Fortaleza a experiência museológica. Numa vitoriosa batalha contra as emissões dos automotivos e o burburinho inquieto dos estudantes que atravessam as ruas com a pressa, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará repousa há 60 anos feito uma oração ao tempo. Como os museus do Louvre em Paris, Britânico em Londres, Nacional da China em Pequim, Metropolitan em Nova York ou Prado em Madri, o museu desejado por Martins Filho se converteu num museu da Cidade. Nas palavras do artista visual carioca Hélio Oiticica, “museu é o mundo; é a experiência cotidiana” — e o Mauc borda futuros com a linha do presente continuamente transmutado em memória.
Fóssil, casca, espaço físsil: o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará foi instalado, em 1961, numa edificação onde até o ano anterior funcionava o Colégio Santa Cecília, no terreno de uma chácara que pertencera ao Coronel Pierre. No momento preciso da criação museológica, a edificação em dois pavimentos abrigava no piso superior as salas destinadas às exposições. Em 1965, entretanto, o Mauc ganhou e inaugurou sua nova sede nos domínios da UFC. O projeto original é do renomado arquiteto modernista José Neudson Braga (1935-), formado pela chamada Escola Carioca, produção que incorporou todas as premissas internacionais do Modernismo — ausência de ornamentos, linhas retas, funcionalista, janelas em fita e pilotis, a exemplo.
Na fachada do Mauc, o painel “Jangadas”, de Zenon Barreto, é um convite a conhecer o Ceará Profundo e as terras além-mar: atualmente, o museu da UFC tem sob sua guarda um acervo de aproximadamente sete mil obras. Dentre o vasto conjunto museológico, a coleção de Arte Popular reúne 1.544 peças — matrizes e estampas de xilogravuras, esculturas em cerâmica e madeira, ex-votos — e a de Artes Plásticas, 5.184 — pinturas, guaches, aquarelas, gravuras, desenhos, esculturas. As coleções do Mauc se mantêm alinhadas ao lema da Universidade Federal do Ceará: “O universal pelo regional”.
“O Museu de Arte começa a ser sonhado e imaginado muito antes da criação da própria universidade. Quando Martins Filho conheceu o Quartier Latin e os museus franceses, ficou muito encantado com essa potência cultural que os museus têm por natureza, mas também com essa potência educativa dos museus — não há como pensar em um museu sem pensar cultura e educação”, destaca a museóloga Graciele Siqueira, atual diretora do Mauc.
Onze anos antes da inauguração da UFC, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) foi criada em Fortaleza a partir do ainda anterior Centro Cultural de Belas Artes (CCBA). O Centro e a SCAP forjaram talentos como Antônio Bandeira, Heloysa Juaçaba, Zenon Barreto, além de Mário Baratta (1915-1983), Aldemir Martins (1922-2006), Barrica (1913-1993), Nice Firmeza (1921-2013), Estrigas (1918-2014) e Jean-Pierre Chabloz (1910-1984).
Irmão do literato Fran Martins, membro da Academia Cearense de Letras e também fundador do Grupo Clã, Martins Filho manteve relações de confiança com artistas — principalmente os oriundos da SCAP, que estavam em plena atividade na segunda metade dos anos 1950. O período inicial do Mauc, portanto, é definido pela aquisição de grandes coleções como a de Raimundo Cela, Antônio Bandeira, Chico da Silva, Sérvulo Esmeraldo, Barrica, Arte Popular e Arte Estrangeira. Esta política de coleções estabelece para o museu uma postulação museográfica voltada para a criação de salas especiais destes artistas cearenses.
“A primeira obra comprada para o acervo da universidade foi ‘Rolando Para Terra’, de Raimundo Cela (óleo/tela–1946). Raimundo Cela tinha falecido em 1954. Em 1957, Martins Filho realiza no Salão Nobre da Reitor ia uma retrospectiva com as obras do pintor e compra este trabalho. Depois, compra com a viúva a coleção de pinturas, desenhos e gravuras. O reitor também compra as obras de Antônio Bandeira”, rememora Graciele Siqueira.
A aquisição de obras para o Museu de Arte da Universidade do Ceará ocorreu, portanto, por meio de duas modalidades: compra pela Reitoria ou doações feitas pelos autores das obras, ou por seus representantes legais, ou por pesquisadores da UFC — processo iniciado já na década de 1990. “Segundo o professor e pesquisador Gilmar de Carvalho (1949-2021), a coleção de xilogravuras do Mauc é a maior e mais importante do Brasil em uma instituição pública e com uma sala permanente em seu museu de arte. O Mauc adquiriu coleções que, hoje, são referência: Chico da Silva, Bandeira, Raimundo Cela, Sérvulo Esmeraldo…”, enumera a atual diretora da instituição. “Martins Filho não queria fazer só um museu de acumulações: ele tinha preocupação de preservar o regional, o nacional e o internacional, já que mandou comprar obras na Europa. O reitor investiu também na qualificação dos funcionários”, complementa a museóloga.
Em 1979, Aldemir Martins e o pintor Nilo Firmeza — mais conhecido como Estrigas — doaram à UFC um conjunto de obras provenientes do Minimuseu Firmeza que compõem uma exposição retrospectiva, aumentando significativamente o número de aquisições do Mauc. No mesmo período, o museu experimentou também uma expansão do acervo com obras de autores nacionais, com destaque para Carybé (1911-1997), Carlos Bastos (1925-2004) e Jenner Augusto (1924-2003). Por fim, o terceiro período de composição patrimonial tem relação direta com o envolvimento do museu com as áreas de produção de conhecimento institucionais nos campos da antropologia, semiótica, literatura e história.
“Historicamente a formação de uma coleção é fruto da vontade de um grande homem: o Museu Nacional de Belas Artes abriga parte da coleção que Dom João VI trouxe da Europa; o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC-USP, teve o seu acervo doado por Ciccillo Matarazzo, mecenas paulista, e sua mulher Yolanda Penteado; a Coleção Fundação Edson Queiroz, fruto da vontade do chanceler Airton Queiroz. A coleção do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará teve a sua formação também por meio da vontade de um homem, o reitor Antônio Martins Filho, e a ele todos os méritos. Assim a história se repete ao longo dos séculos, quase como uma ação comum. Cabe destacar a participação de Sérvulo Esmeraldo, a quem lhe foi confiada a aquisição de obras de artistas europeus para iniciar um núcleo de arte europeia — e Sérvulo foi preciso nas suas escolhas. Obras foram incorporadas à coleção de arte popular, os núcleos monográficos, com aquisições consistentes e doações relevantes”, ressalta o marchande galerista Max Perlingeiro.
Criador das galerias Pinakotheke Cultural, Multiarte e Pinakotheke São Paulo, Perlingeiro é perspicaz conhecedor do Mauc e seus ricos acervos. “Em 2014, tive o privilégio de ser contratado pela renomada empresa de consultoria e auditoria Ernst & Young para fazer um levantamento de todo o patrimônio artístico do Mauc. Trabalhamos durante mais de um ano e o resultado foi surpreendente para todos”, pontua. “A abertura da exposição de Bandeira no Mauc foi um acontecimento sem precedente: vieram críticos, jornalistas, historiadores do Rio de Janeiro e de São Paulo… E a coleção era extraordinária. Foi montada com um rigor museológico e inovador à época”, complementa.
O acervo arquivístico do Mauc conta com dois fundos documentais distintos: o acervo institucional do Museu de Arte da UFC e o acervo do artista Jean-Pierre Chabloz. O institucional é composto de relatórios anuais, correspondências, fotos, livro de assinaturas de visitantes, catálogos de exposições e documentações dos artistas que possuem salas individuais no espaço expositivo: Aldemir Martins, Antônio Bandeira, Chico da Silva, Descartes Gadelha e Raimundo Cela. Outras duas salas guardam a Coleção Cultura Popular e a Coleção Xilogravura.
A Coleção Aldemir Martins é constituída de pinturas, litogravuras, desenhos e esculturas que versam sobre a representação do “ser” brasileiro, da natureza e das origens nordestinas do artista nascido em Ingazeiras, distrito de Aurora (CE). Em suas obras, Aldemir inventou dos cangaceiros às rendeiras — e o influente representante do Modernismo brasileiro é considerado um dos nomes mais relevantes do cenário artístico cearense. A inauguração da Sala Aldemir Martins foi realizada no dia 18 de maio de 1979.
Marca da instalação do Museu de Arte da Universidade do Ceará, Antônio Bandeira possui um total de 40 obras no Mauc, o mais respeitado conjunto de acervo público do artista no País. Além da sua participação no exercício de formar o arquivo museológico, Bandeira entranhou a arte cearense na França: o pintor teve contato com grandes mestres do desenho, como Narbonne, e da gravura, como Galanis. Entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras abstracionistas que integram a Coleção, destacam-se as obras “Cidade Queimada de Sol – Uma homenagem à Fortaleza”, “A Grande Cidade Vertical”, “Flora Azul” e o tríptico “Cidade em Festa”.
O estilo inconfundível de Chico da Silva (1910-1985) colore também uma sala individual no Mauc: nascido numa família humilde em Alto Tejo (AC), foi descoberto na década de 1940 pelo suíço Jean-Pierre Chabloz, que deparou-se com muros e paredes de casas desenhados na Praia Formosa pelo artista. Segundo Chabloz, o trabalho de Chico da Silva remete a lendas amazônicas, recordações da infância, ritos e práticas mágicas. Dentro do movimento artístico Naïf, o pintor consagrado no Ceará é considerado um “gênio primitivista” a nível nacional. O total de obras pertencentes ao Mauc soma, atualmente, 78 telas — dentre as quais, 12 quadros participaram da 33° Bienal de Veneza em 1966 e receberam o prêmio de “Menção Honrosa”.
O expressionista Descartes Gadelha, nascido na Fortaleza de 1943, é o único artista vivo que conserva uma coleção individual no Mauc. Doutor Honoris Causa da UFC, Descartes possui uma trajetória artística intimamente costurada ao museu universitário e realizou diversas exposições nos domínios do equipamento — “Canindé: Canaã Nordestina” em 1974; “De um alguém para outro alguém”, em 1990; e “Caldeirão de Fé”, em 2006, a exemplo. Pintor, desenhista, escultor, músico e griô do tradicional Maracatu Solar, o artista passeia em suas obras por bailarinos da noite, prostitutas do Centro, pessoas em situação de rua, catadores e catadoras de resíduos, entre outros sujeitos socialmente marginalizados. Outra importante criação do fortalezense sob a guarda da UFC é a representação de Iracema, que integra o Salão de Iracema na Casa de José de Alencar.
O sobralense Raimundo Cela (1890-1954), por fim, é celebrado por sua vasta obra que cartografa a terra e os tipos humanos regionais numa perspectiva estética formal. Pintor, desenhista e gravador, imortalizou em pinceladas pescadores, vaqueiros, artesãos, operários, jangadeiros… Com o maior acervo do artista no Ceará, o Mauc reúne mais de 70 criações na Coleção. As contribuições de Cela com a universidade, no entanto, são anteriores ao museu: em 1957, no período denominado pré-Mauc, o pintor participou de uma retrospectiva com Vicente Leite no Salão Nobre da Reitoria como parte do projeto artístico cultural da UFC.
O Mauc, em sua multiplicidade, abriga ainda o arquivo histórico de Jean-Pierre Chabloz (1910-1984). Nascido em Lausanne, na Suíça, o pintor, desenhista, crítico de arte, músico, professor e publicitário radicou-se no Brasil para fugir da guerra em 1940. Três anos após aportar no Rio de Janeiro, Chabloz foi convidado a trabalhar em Fortaleza na campanha da borracha. Na capital cearense, expôs no 1º Salão de Abril, participou da SCAP, incentivou o encontro entre artistas, promoveu exposições, palestras e recitais — o suíço, em outras palavras, foi um agitador do cenário local da cultura.
Doado ao Mauc, o fundo J. P. Chabloz compreende um conjunto de documentos pessoais referentes às atividades artísticas executadas pelo pintor na Europa — na década de 1930 — e no Brasil — entre as décadas de 1940 e 1980, de modo descontínuo. Entre os destaques do acervo, as atividades realizadas em Fortaleza durante nos anos 1940 registram as contribuições do artista para o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta). Em 2016, este conjunto de obras recebeu o Selo da Unesco em seu Programa Memória do Mundo pela importância e relevância temática.
“Nós temos entre 15% a 20% do acervo exposto no Mauc atualmente, ou seja, cerca de 650 peças. Além das salas individuais, ressalto ainda as salas coletivas Os Fundadores e Arte Cearense. O acervo museológico do museu é composto por xilogravuras, matrizes de xilogravura, esculturas de barros, madeira, cerâmica, pinturas, desenhos, gravuras, guaches…”, especifica Graciele Siqueira. O Mauc contempla também a Biblioteca Floriano Teixeira, equipamento que mantém um acervo especializado em artes; e a Biblioteca Jean-Pierre Chabloz, formada por livros e revistas da biblioteca particular do artista. Nestes emaranhados criativos num mundo de materiais, um chamado: seguir os passos dos precursores e desbravar o Mauc.
A “Exposição Comemorativa da Instalação do Mauc” apresentou o museu universitário aos cearenses no dia 25 de junho de 1961. Em julho, mês posterior à inauguração, as atividades se consolidaram com a mostra “Bandeira” — recorte de óleos e os guaches do artista. Nada melhor, para o Museu de Arte da Universidade do Ceará, do que iniciar suas atividades com uma exposição de Antônio Bandeira”, escreveu o literato Fran Martins à época. “Digo iniciar suas atividades porque acredito que o Mauc está convencido de que um museu não é um órgão estático, parado, depósito de quadros sem vida e sem calor. E assim, inaugurado há poucos dias, o mais jovem museu do Brasil já começa a procurar agitar a pacata cidade de Fortaleza. Nada melhor do que uma exposição de Bandeira para mostrar que o Museu de Arte da Universidade do Ceará nasceu vivo e promete endiabrar-se”.
Pintor, gravador, escultor, cenógrafo e figurinista, o fortalezense José Tarcísio Ramos teceu sua trajetória artística junto ao Mauc. Aos 80 anos de vida e 60 de carreira, Zé Tarcísio acompanhou a consolidação do museu. “Eu conheci o Mauc no dia da inauguração — e, nesse dia, também tive a chance de conhecer o Antônio Bandeira. Imagina só: eu jovem, com o sonho de ser artista, ter essa possibilidade de assistir a inauguração do museu, da Concha Acústica… Fortaleza ganhava espaços culturais. Antônio Bandeira foi importantíssimo na minha vida. Ele me disse tanta coisa fundamental que, durante esses 60 anos de trabalho, é um eco que estou sempre ouvindo através da lembrança. Ele me disse que ‘tem que gostar, tem que acreditar na arte. Tem que ouvir mais que falar e ser teimoso’. Essa ‘teimosia’ é persistência, é insistência, é o que eu faço até hoje. Toda exposição eu me preparo como se fosse a primeira”, sublinha.
Zé Tarcísio frequentou o Curso Livre de Pintura na Escola Nacional de Belas Artes (RJ) aos 20 anos. Em 1971, foi comissionado por Walmir Ayala para ser um dos representantes brasileiros na VII Bienal de Paris. Três anos depois, em 1974, expôs no XXIII Salão Nacional de Arte Moderna e ganhou o prêmio nacional de uma viagem ao exterior. Na década de 1980, de volta ao País, criou seu ateliê. Seus 30 anos de atividades artísticas — incluindo uma temporada na Europa e em Cuba — foram homenageados pelo Mauc nos anos 1990. “É impossível imaginar a emoção que eu tive naquele espaço… Eu tenho um grande respeito pelo Mauc, esse espaço tem preciosidades que contam muito da nossa história”, relembra o artista. “O Museu da Universidade é uma coisa muito querida, é uma coisa nossa, propriedade da comunidade. Nós temos que ter carinho pelo Mauc, tem tanta coisa linda, tanta obra de arte! É um passeio fantástico na Cidade. Eu não vejo programação na Cidade para ir a museus e galerias. Essa é a minha reclamação da Cidade em si com essa joia que é o Museu da Universidade”, complementa.
“O Mauc é um patrimônio nosso. Muitas vezes, as pessoas pensam que as instituições são do Governo — mas não são, são nossas. O Governo tem responsabilidades, obrigações com políticas públicas, mas são espaços nossos”, defende Zé Tarcísio. “O museu da universidade sempre fomentou formação. Quase todos os artistas que vieram depois do Mauc tiveram essa experiência. Arte é nossa identidade, nossa cultura, deveria vir desde o beabá — mas é importante que essa experiência seja muito além da elite, seja do povo. O museu está pronto, o que está faltando é a nossa persistência para as coisas acontecerem.”
No reino do instante, a arte se eterniza entre os dedos firmes de Zé Tarcísio. “Eu escolhi uma profissão em que eu desenho, entro no desenho, me penso no desenho e me acho também. É um processo de vida — há 60 anos é assim. Eu sou rico, eu sou milionário: tenho uma profissão livre, uma profissão em que eu sou eu. É como amizade, é uma coisa rara… Eu tenho a arte, eu tenho muitos amigos; e isso tudo vale uma fortuna”, acredita.
Sérvulo Esmeraldo, Francisco Sousa, Andrea Kulpas, Marcos López, Clementina Duarte, Cristina Pagnoncelli, Elaine Ramos, Carybé, Diva Elena Buss, Janete Costa, Marianne Peretti, Mirthes Bernardes, Renata Rubim, Estrigas, Zuzu Angel, Azuhli, Espedito Seleiro, Barrica… Em 60 anos de história, as paredes do Mauc testemunhara m os mais diversos trabalhos de gerações de artistas locais, nacionais e estrangeiros. O reconhecimento e a divulgação da arte cearense, no entanto, sempre foram faróis para o museu universitário.
“Minha primeira exposição foi no Mauc”, rememora o artista visual Roberto Galvão. Nascido na capital cearense em 1950, o autodidata iniciou – se na pintura em 1964. Na década de 1970, Galvão adentrou nas pesquisas sobre cultura popular e as possibilidades plásticas dos metais e do mármore. Primeira mulher a assumir a direção do Mauc, Zuleide Martins de Menezes — filha de Martins Filho, esteve à frente da instituição de 1965 a 1985, contribuindo para a consolidação do museu e do fortalecimento de sua atuação — apostou no então jovem artista. “O Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, sempre aberto aos novos talentos, apresenta desta vez um dos destacados artistas da sua geração: Roberto Galvão. Em um mundo cheio de arraias idas, Roberto lança seu talento de pintor, ao mesmo tempo em que transforma blocos de mármore em obras de arte. Da segurança, da pesquisa incessante, de um trabalho consciente resulta uma mostra cheia de beleza como esta que aqui está”, registrou a diretora. A mostra foi inaugurada em 22 de agosto de 1974.
Desde os anos 1970, com “As arraias” — as pipas nordestinas apresentadas na Bienal de Arte de São Paulo e expostas posteriormente no Mauc —, Galvão tem realizado tanto exposições individuais quanto mostras coletivas no museu da UFC. “Eu estudava Arquitetura na UFC, então sempre acompanhei a agitação no Mauc. Quando eu decidi ser artista, abandonei meu interesse pelo curso de Arquitetura e a relação com o Mauc ficou ainda mais próxima quando me afastei da faculdade. Eu fiz muitas exposições no museu, participei de muitas coletivas”, recupera. “O museu tem dezenas de obras minhas, doações que hoje são conhecidas do público graças ao que mais me encanta no Mauc: o caráter pedagógico.”
“Tanto o acervo quanto as mostras que o Mauc tem montado têm uma preocupação educativa — e eu creio que esse é o caminho correto. Este é meu interesse em doar obras para o Mauc: ter uma obra no museu da universidade é muito bom para um artista, porque sabe que os trabalhos serão inseridos em um contexto pedagógico. Na minha visão, a coisa mais importante de um equipamento público é essa função. Para mim, o Mauc é uma sala de aula onde o público vê arte e aprende”, defende Galvão. “O Mauc tem dificuldades? Sim, mas é o que temos de melhor no Ceará”.
Roberto Galvão inaugurou a exposição individual “Mato Branco” no Mauc em 2019. Originário do tupi, o título significa “caatinga” — segundo o artista, a inspiração para a série nasceu na observação da paisagem sertaneja na estrada entre Sobral e Fortaleza ao longo de 10 anos. As mais de 200 obras que integraram a mostra reuniram xilogravura, água-forte, linóleo, gravura em metal e múltiplas técnicas, como lápis de cor, aquarela e tinta guache. “Nesta década de observação da paisagem ora seca, ora verde, eu pensei: por que temos a preocupação de pintarmos os verdes, muitas vez es raros no Ceará? Por que não ver beleza e pintar a paisagem árida, que é também nossa realidade?”.
Como modelo colaborativo, composto por ciclos diversos de participação e envolvimento, o Mauc experimenta abundantes olhares sobre as práticas artísticas. A direção de Zuleide Martins de Menezes foi marcada pela publicação do Catálogo do Mauc, a formação das coleções, as ações de intercâmbio, o surgimento das salas especiais de artistas, as exposições realizadas e o destaque ao lugar do museu na sociedade cearense. Em 1987, o Mauc ganhou a direção do artista visual e arquiteto Pedro Eymar Barbosa Costa, professor do curso de Arquitetura da UFC e especialista em Conservação e Restauração em Bens Culturais pela Universidade Federal de Minas Gerais, Pedro Eymar conectou a geração scapiana a novos momentos históricos e desafios da instituição.
Pedro Eymar assumiu a direção do Mauc no período de abertura política após a ditadura militar e realizou reconhecido trabalho ao manter a instituição funcionando num período político nebuloso. Em entrevista ao O POVO em 2021, o ex-diretor apontou que “manter um acervo com a qualidade de referência cultural tão rica impõe uma batalha incansável”. Entre as adversidades da gestão do equipamento, o artista e arquiteto enfrentou “reformas cada uma com sua natureza específica e tendo em comum a impossibilidade de serem realizadas de forma simultânea” e a necessidade de “modernizar-se apesar da privação das dotações orçamentárias”.
Nos 30 anos do Mauc, celebrados em 1991, o professor, escritor, jornalista e publicitário Gilmar de Carvalho (1949-2021) analisou a trajetória do museu no Vida & Arte, caderno cultural do O POVO, em 13 de agosto: “Reparos podem e devem ser feitos, mas o Mauc reflete uma coerência com as políticas para ele adotadas. Seu acervo denota uma recolha dos momentos mais instigantes da produção artística na constituição de um ‘corpus’ do que se considera tradição. A ideia de processo é bastante clara. A acumulação da herança é ponto de partida para a superação e a ruptura. É nessa perspectiva que as tendências estéticas avançam. A função da arte neste contexto ganha novas significações. (…) O Mauc é jovem nestes trinta anos. Porque abriu, literalmente, suas portas para um público também jovem. E apostou na avidez destes novos segmentos pelas ousadias estéticas, pelo peso da tradição e pela importância da informação”.
Gilmar, um homem visitador e conhecedor de cada município do Ceará Profundo, enfrentou “o pedregulho, a areia, a extrema beleza e a profunda miséria” . Mestre encantado pelos saberes da terra, Gilmar presenteou o Mauc com um mergulho nas tradições, bebeu do nascedouro da arte cearense. Hoje, o tempo dobrou-se — e o sangue dos tesouros da nossa cultura irrigam o Museu de Arte da UFC.
A museóloga Graciele Siqueira, graduada pela Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e mestra em Museologia e Patrimônio também pela Unirio, assumiu a direção do Mauc em 2018. Nas mãos, um equipamento histórico com o desafio de aliar arte, educação e formação de público. “Quando Martins Filho criou o museu, ele teve a preocupação de ter um guia — aquele funcionário que apresenta o equipamento, as disposições, promove o encontro do espaço com os visitantes ou grupos agendados. A formação de público é fundamental no museu universitário e nós realizamos quase 500 exposições em 60 anos de história. Não é um número apenas quantitativo, mas é um número qualitativo pela diversidade de ações, de experimentações, de ações executa das para acolher e receber os mais diversos públicos”, ressalta a diretora.
O Núcleo Educativo do Museu de Arte da UFC (NEMauc), responsável pelo planejamento, gestão e execução da Política Educativa e Cultural do Mauc por meio de programas e projetos que objetivam a participação e o exercício da cidadania por meio da arte e do patrimônio, foi implantado em 2019 por Graciele. No entanto, as primeiras atividades pedagógicas datam ainda no período denominado pré-criação do museu (1955-1961), na importante figura dos guias. Em 2009, Pedro Eymar sentenciou: “A ideia de um Museu, longe de um ‘culto à saudade’ (referência à matriz barroseana implantada no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro), ou de uma adesão ao movimento de criação de museus de arte moderna, liga-se diretamente ao núcleo da questão da identidade cultural podendo depreender-se do termo ‘sedimentação’ o caráter dinâmico e educativo contido em sua ideia”. A primeira profissional a atuar na função de guia foi Rita Araújo. Posteriormente, assumiu o cargo Henrique Barroso que, após concluir o Curso de Museus do Museu Histórico Nacional em 1966, retornou a Fortaleza e se tornou também o primeiro museólogo do Mauc, permanecendo no equipamento até 1991.
“Quando assumi o cargo de diretoria do Mauc, uma das funções que estavam agregadas à direção do museu era receber as escolas. Comecei a trabalhar com suporte, planejamento estratégico, planejamento institucional e a me perguntar: que instituição é essa? Quem somos nós depois de 57 anos no centro de atuação? Alinhando o Mauc à Política Nacional de Educação Museal, eu vi que era cada vez mais necessária a criação de um núcleo de educação para receber os públicos diversos que frequentam o Mauc: de bebês a idosos. Hoje, nós pensamos estratégias educativas, pedagógicas também para a recepção das escolas, para atividades de férias no museu. O Núcleo Educativo nasceu em 2019, mas ele sempre existiu de forma prática”, elucida Graciele.
Entre 2017 e 2019, o número de visitantes do Mauc triplicou. Iniciativas com o o Música no Mauc, voltadas a servidores e alunos; Férias no Mauc, para público geral; e o Corredor Cultural Benfica ofertaram programações que inseriram o museu universitário como opção variada, gratuita e acessível no circuito das artes em Fortaleza. Recentemente, o Mauc também foi incorporado à Secretaria de Cultura Artística da UFC e afinou o relacionamento com demais equipamentos culturais universitários.
A Secretaria de Cultura Artística da UFC foi criada em 2012. Desde sua fundação, apenas a Casa de José de Alencar e o Teatro Paschoal Carlos Magno (Tupa) estavam inseridos na estrutura administrativa — o Mauc e a Casa Amarela Eusélio Oliveira (CAEO) não faziam parte dos equipamentos culturais vinculados ao órgão. “Havia uma certa vontade institucional, mas sem a necessária articulação para tal”, explica a produtora cultural e comunicadora Maria Pinheiro Pessoa, diretora da Secretaria. “Com a nova gestão, houve uma prioridade nesta questão e em dezembro de 2020 tivemos esta grande conquista que aproximou os equipamentos e a Secretaria. A vinculação torna possível uma maior integração das ações e uma atuação fortalecida das unidades junto à Administração Superior. Mesmo neste período pandêmico de grandes adversidades, a Secretaria tem dado apoio ao Mauc em seus projetos e ações, como por exemplo, o I Seminário Museus e Coleções da UFC – Reflexões Contemporâneas, realizado na Semana dos Museus, em que foi executada uma vasta programação, contribuindo para o conhecimento e reflexão sobre os acervos da UFC. Além do apoio também em questões administrativas que envolvem articulações e decisões sobre a estrutura do equipamento, de pessoal, material, acervo, entre outras”, enumera.
“O Mauc é um equipamento cultural de grande atuação no estado do Ceará há 60 anos, contribuindo significativamente para as artes plásticas, dando oportunidades para inúmeros artistas exporem suas artes, extrapolando os muros da universidade e contribuindo com o acesso à cultura e a circulação e valorização das obras e dos artistas que compõem seu acervo que contabiliza mais de sete mil obras sob sua guarda. Mais recentemente, o Museu também tem atuado intensamente com ações de educação museal com a criação do Núcleo Educativo do Mauc e assim cumprindo uma função primordial para a universidade, que é a produção e formação artística, principalmente na área do Patrimônio Cultural. Para os próximos meses, teremos o retorno gradual das suas visitações e ações, obedecendo os protocolos sanitários e buscando realizar as exposições e projetos que o Museu promove com muito empenho, como por exemplo, o projeto Férias no Mauc que terá mais uma edição prevista para os meses de julho e agosto”, continua Maria. “O marco de completar 60 anos nos mostra que a melhor forma do Museu contribuir com a valorização das expressões artísticas do Estado, principalmente as que estão inseridas em seu acervo, é manter a resiliência e o esforço em promover ações continuadas e voltadas para toda a comunidade”, complementa a secretária de Cultura Artística.
Diretor da Casa de José de Alencar, Frederico Pontes destaca a relação entre as instituições geridas pela UFC. “O Mauc e a Casa de José de Alencar possuem uma aproximação natural por serem os principais equipamentos culturais da UFC, no que tange a salvaguarda de valiosos patrimônios artísticos e culturais. Nesse sentido, muitas atividades são planejadas de forma conjunta, como por exemplo: projetos de segurança e acessibilidade dos espaços de exposição. E além dessas afinidades, os dois equipamentos possuem uma relação muito próxima da sociedade, sendo espaços de formação educativa não formal para estudantes cearenses e sendo também espaços de grande visitação turística, sendo assim importantes equipamentos para o turismo cultural da cidade de Fortaleza.”
“O Mauc surge num período de efervescência cultural no Ceará, a implantação da primeira Universidade e a atuação de uma nova geração de artistas plásticos. O Museu de Arte da UFC terá papel fundamental para a promoção, divulgação e valorização das artes plásticas cearenses, abrindo espaços para novos artistas e novas linguagens, sendo também um espaço formador de coleções que representam a cultura nordestina, hoje expostas na Sala de Cultura Popular. Através da promoção de exposições dos principais artistas plásticos cearenses, o museu deu visibilidade e reconhecimento para artistas que posteriormente seriam consagrados pela crítica nacional e internacional. Assim o Mauc foi se consolidando como o principal museu de artes plásticas do Ceará”, finaliza Frederico.
“O que vemos só vale — só vive — em nossos olhos pelo que nos olha”. Na obra “O que vemos, o que nos olha” (1998), o filósofo, historiador e crítico de arte francês Georges Didi-Huberman insinua que a visão é um sentido experimentado por meio da relação estabelecida entre quem olha e quem é visto. Como “o ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois”, numa cisão do ver que defende inelutável, não apenas observamos imagens — somos também desvendados por elas. Neste binômio visibilidade/invisibilidade, o museu emerge como um olhar em partilha.
Em 2 de setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu a sede do Museu Nacional no Rio de Janeiro e destruiu o amplo acervo construído ao longo de 200 anos. Questionado sobre propostas para a manutenção do patrimônio histórico do País, o presidente Jair Bolsonaro respondeu: “Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?”. O Brasil contém seu passado como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos arranhões e entalhes que resistem ao tempo. Construir e reconstruir um museu — e um museu na universidade — é uma aposta no amanhã, uma insurgência contra todas as políticas de desmemória que atravessam a nação.
“Guardo o Mauc como meu primeiro museu”, relembra Izabel Gurgel, comunicadora e especialista em Gestão da Cultura.“O Mauc era então o daquele desenho preciso no endereço atual, esquina das avenidas da Universidade e 13 de Maio, antes da reforma que deu a cara que ele tem hoje. Guardo a esquina onde fica o Mauc, com o painel de pastilhas do Zenon Barreto, um primor de arte urbana: é um cinema na rua aquelas jangadas do Zenon deslizando no mar. Guardo o painel junto com ‘Cidade em festa’ e ‘Cidade queimada de sol’, do Bandeira. Sempre que voltei ao Mauc, e voltei mil e uma vezes e quero ir mais, dava-me o tempo de olhar os Bandeira uma vez mais, ir descobrindo a qualidade do desenho do Aldemir, Raimundo Cela ficando maior aos meus olhos. O Mauc me apresentou também o balaio cheio do Chico da Silva. Alargava minha compreensão de Fortaleza. O Mauc e o Chico da Silva me apresentavam o Pirambu na frequência da criação artística, campo, chão de um migrante, Chico da Silva, que vai passar a outros espaços quando seu caminho se cruza com o de outro viajante, Jean-Pierre Chabloz, o suíço que vem viver no Brasil. Brinco dizendo que museu é lugar de aprender a olhar para fora”.
Em meio à precariedade sofrida por lugares públicos de vida artística, de criação e de fruição dissociados de investimentos e de dotação orçamentária própria, pontua Izabel, “o Mauc, como outras instituições nossas — nossas Brasil e não só nossas Ceará — talvez nem sempre realize a potência de que é capaz”. Para a comunicadora, a sociedade tem um desafio comum: “Pensar e fazer um museu não só interpelado pelos novos tempos e novas possibilidades de uso, ocupação, produção, criação, difusão, mas um museu que também possa nos interpelar, possa nos convocar a pensar talvez essa questão tão básica que foi colocada por Barthes e tematizou uma Bienal de Arte de São Paulo: como viver junto? Compreender a Terra como um bem comum e tocar a vida como fazem artistas — criando, tateando, intuindo novos possíveis para vivê-la, ampliá-la, estar à altura dela. Um levante em defesa da vida, uma vez que é de matança como política pública o tempo que vivemos. Como operar com nossas instituições nessa frequência?”, questiona.
Para Graciele Siqueira, os caminhos da arte são os caminhos do comum — o que nos une. “A gente tende a acreditar que um museu universitário é só da universidade; que um museu é só de quem estuda e conhece arte. Eu gosto muito de desmontar esses conceitos porque os museus são para todos nós — às vezes, eles não estão de portas abertas, mas agente tem um trabalho no Mauc para que as pessoas cheguem e se identifiquem no Mauc. Quando você passa na porta do Mauc, o ‘Jangadas’ nos lembra que o museu nos liga e nos conecta à cidade. Quando você entra no Mauc, vê refletido no espaço toda a nossa cultura, todos os nossos hábitos, todos os nossos lugares, o que nós somos. Às vezes, existe um medo de encarar a arte, porque a arte durante muitos anos foi para a elite da elite, mas a gente precisa derrubar isso cotidianamente — como Hélio Oiticica nos ensinou. A arte é para todos, a arte é transformadora. O que faz sentido na experiência museológica é reconhecer e respeitar as vivências de cada um: isso é o museu cumprindo sua função social, isso é o museu cumprindo a sua missão, isso é o museu sendo para todos”, encerra.
Entre 1958/1959, o reitor Antônio Martins Filho me visitou em Paris com o propósito de discutir seu projeto para o Museu da Universidade do Ceará que já existia no papel e, de forma muito concreta na sua mente. Caminhando no Boulevard Haussmann, ele discorria sobre seu projeto que era muito preciso. Sua intenção era de que o museu fosse não um apêndice, mas parte integrante da Universidade, um museu-escola de arte.
Conversamos longamente sobre as coleções que o museu teria. Sua ideia era a de que se adquirisse pinturas copiadas de quadros famosos dos mestres constantes nas coleções dos grandes museus, realizadas por copistas profissionais. Discordei disso, defendendo a importância da obra original. Se aquela escolha era norteada por fatores financeiros e didáticos, sugeri-lhe que pensasse numa boa coleção de gravuras. Esta sim, uma alternativa econômica, didática e consequente. Além de contemplarmos a obra autêntica, investíamos também numa expressão cara tanto ao Brasil como ao Ceará.
Lembrei-lhe da importância da nossa arte popular, notadamente do Cariri, onde havia uma cerâmica muito bonita, com brinquedos: cavalinhos, burrinhos, patinhas, e, o rico cabedal da gravura popular de Juazeiro do Norte. Eu achava que o museu no seu ramo de pesquisa devia trabalhar esse assunto. Atento, ele me pediu maiores informações sobre a tipografia e o cordel. Falei-lhe do embrião de uma coleção que iniciei nos anos 40/50 de cerâmica e, de uma mais significativa, de cordel, com cento e poucos livrinhos que eu escolhia pelas capas em xilogravura, evidentemente, e que levei comigo quando me transferi para São Paulo, em 1951, e depois para a França, em 1957. (Um amigo fotógrafo, Carlos Alberto Kok Sá Moreira, registrou muito bem esta coleção ainda no Brasil, em centenas de fotos de ótima qualidade que foram perdidas anos mais tarde na Suíça).
Discorri ao reitor sobre esta coleção que teve um destino muito interessante: no meu projeto de bolsista do governo francês na Beaux-Arts constava que eu estudaria a gravura em madeira de Albrecht Dürer, localizada na reserva do Gabinete de Estampas da Biblioteca Nacional. Para ter acesso àquele tesouro precisei de um documento da Embaixada do Brasil se responsabilizando por qualquer dano. Naquele ambiente tranquilo, passava as manhãs de terça e quarta-feira estudando a obra gravada do mestre alemão. Existia pouca gente no local, um senhor com quem sempre cruzava aproximou-se um dia, querendo saber por que eu utilizava lupa conta-fios nas minhas pesquisas, não só observando a estampa, mas também o papel. Este senhor era Edmond Pognon, conservador-chefe do gabinete de Cartografias. Identifiquei-me, conversamos sobre meu trabalho, interesses e as gravuras populares da minha região no Brasil.
Na semana seguinte levei alguns exemplares da minha coleção de Cordel para mostrar-lhe. Surpreso, ele me pediu para deixá-los para que fossem mostrados ao conservador-chefe do Gabinete de Estampas, o renomado especialista, Jean Adhemar. Para minha surpresa, encontrei frente aos meus cordéis, além dos senhores Pugnon e Jean Adhemar, também o diretor-geral da Biblioteca Nacional, Valérie Radeau (que, por sinal, já tinha conhecimento do cordel brasileiro, através de uma neta que havia lhe presenteado com alguns adquiridos na Bahia, mas que me confessou nunca ter imaginado que pudessem ter capas de tão boa qualidade). Ambos estavam fascinados com as estampas de suas capas. Mr. Valérie Radeau pediu-me autorização para fotografá-las. No caminho de casa, decidi doar toda aquela coleção para a Biblioteca Nacional, mais do que bem conservadas elas seriam vistas, estudadas por um público respeitável. Sensibilizado com minha proposta, o diretor foi enfático: “É magnífico, isso é muito interessante, sente aí”. Prometi-lhe de ampliar a coleção (que foi não para o Gabinete de Estampas, para minha frustração, mas para a seção de livros, posto que não destaquei as capas). Os olhos do reitor Martins Filho acompanhavam minha estória com vivacidade.
Sentindo que era chegado o momento daquela produção ser assistida com a importância devida, chamei sua atenção para o perigo de uma deformação iminente, causada pelo uso do clichê fotográfico, que colocava em risco uma tradição. Refleti que mesmo antes de sair do Crato eu já via matrizes de xilogravura servindo de calço de porta. Tudo isso ele levou em conta. Assustado com a advertência da substituição corrente da xilopela zincogravura, é sabido que, retornando ao Ceará, o reitor Martins Filho expediu uma equipe ao Juazeiro que adquiriu as matrizes (em desuso) das tipografias na tentativa de “salvar” o que restava.
Posteriormente encaminhei-lhe um projeto de coleção focada na Gravura Contemporânea Internacional, centrada na Escola de Paris, já com a lista dos artistas e valor aproximado. A Universidade acatou a proposta me fornecendo 1/3 do valor calculado, ou seja, hum mil dólares. Comecei pelos gravadores mais representativos e acessíveis (de acordo com meus conhecimentos, usando a interferência de amigos etc.). A abordagem era quase sempre a mesma: o projeto do museu-escola no Nordeste Brasileiro, o desejo de adquirir a obra, mas que só podíamos pagar um preço simbólico. Assim fomos adquirindo obras de Hartung, Soulages, autores mais jovens, outros quase inacessíveis, mas, sem desistir compramos duas gravuras de Picasso muito interessantes; uma delas comprada na Galerie Michel (chez “père Michel,”-Quai Voltaire), negociada a 800 francos e mais algumas gravuras minhas, e a outra, também devemos a indicação a père Michel, que me informou de que havia uma gravura de Picasso, um buril, à venda por um bom preço, na Galerie Prouté, onde consegui uma negociação similar.
José Oubrerie, amigo arquiteto que trabalhava com Le Corbusier, me apresentou ao mestre por ocasião de uma exposição sua no Museu de Arte Moderna de Paris; meu amigo já havia adiantado para ele sobre minhas intenções e ficou combinado um encontro no seu estúdio para escolha da obra. No dia acertado, Le Corbusier abriu-me várias mapotecas, com muitas gravuras, de diversos formatos e me deixou à vontade para escolher, me deixando ali sozinho, e, de vez em quando, vinha dar uma olhada no meu trabalho, num desses momentos eu observava, já decidido, uma pequena gravura, uma lito com mais ou menos 20 x 20 cm, muito interessante. Disse-lhe: mestre, eu fico com essa. Ele gostou da escolha e não quis pagamento nenhum, apesar da minha insistência.
Outra boa aquisição em situação também peculiar se deu com a obra de Jacques Villon. Fazíamos impressões no mesmo atelier, no Le Blanc (rue de Saint Jacques). Apresentei-lhe nossa proposta, ele botou a mão no meu ombro e disse que, apesar de querer colaborar seu marchand o impedia de enviar até mesmo um Cartão de Natal a um amigo. Num belo dia, Le Blanc me telefona transmitindo um recado seu que queria falar comigo e que estaria naquela tarde no atelier: “a Calcografia do Louvre estava lançando uma gravura sua, ele queria que eu fosse comprar um exemplar que ele a assinaria para o Museu Brasileiro.” Não perdi tempo, e de posse da obra encontro com Villon que, por ironia, ambos estávamos sem lápis, o que levou o artista a assiná-la com caneta Bic: “E/A (Epreuve d’Artiste) Villon.”
A aquisição da coleção Rapilli foi outro feito memorável que veio contribuir para as raridades do acervo de gravuras do Museu da Universidade. Rapilli era um “booknista” do Quai Voltaire, próximo da Beaux-Arts, que eu frequentava assiduamente. Sua boutique era um misto de livraria de livros raros antigos e recentes e de galeria de estampas, também, raras e antigas. Nesse item ele tinha algo especial que chamava de “Fundo de Gravuras da Renascença”, que ele comercializava por preços acessíveis: cópias em heliogravuras feitas a partir de chapas em cobre, partindo das chapas originais, tecnicamente perfeitas, verdadeiras joias, distintas da obra original apenas no tamanho, e por questões de milímetros, segundo a regulamentação que normatiza os direitos de cópia e original. Certo dia passando do outro lado da rua, Rapilli me chama para anunciar que está se aposentando e se desfazendo de todo o acervo, e me propõe a venda da coleção completa de seu Fundo Renascentista. Escrevi ao reitor Martins Filho que me autorizou a compra. Escolhi atentamente, analisando gravura por gravura, detalhe por detalhe de cada cópia desta coleção que compreende uma centena de gravuras da Renascença. Não sei se esta coleção foi exposta algum dia.
Passados alguns meses depois daquele primeiro encontro no Boulevard Haussmann chegaram em Paris, Fran Martins e Milton Dias que ficaram hospedados num hotelzinho próximo ao meu apartamento. Viajavam em missão da Universidade. Nos aprofundamos no assunto do Museu. Em seguida chegou o Lívio Xavier, vindo da Espanha onde cumprira bolsa de estudos como parte do aprendizado para assumir o posto de primeiro diretor do Museu de Arte da Universidade. Vinha em viagem de estudos. Apedido do reitor, ciceroneei o Lívio por cerca de um ano, visitando museus e instituições afins, procurando boas fontes de pesquisas e de contatos.
Informado pelo Lívio de que a Universidade havia comprado as matrizes disponíveis (e em desuso) nas tipografias de Juazeiro, sugeri a ele que solicitasse ao Museu dois blocos de tiragem dessa coleção para uma pré-agenda que preparei de itinerância de uma exposição da Gravura Popular Brasileira, visando difundi-la na Europa e, posteriormente na América Latina, onde ela também se desenvolveu durante a colonização, sobretudo no México. Em visita de cortesia que fiz ao Monsieur Jean Adhemar, no Gabinete de Estampas da Biblioteca Nacional, com o objetivo de também apresentá-lo o diretor do Museu da Universidade do Ceará, falei-lhe da nova aquisição do Museu e dos nossos planos de trabalho. Reagindo com simpatia à ideia, naturalmente, pediu para vê-las logo que chegassem.
Dos dois lotes recebidos, um era destinado ao Gabinete de Estampas da Biblioteca Nacional, segundo instruções do professor Martins (reitor Martins Filho), o que achei muito justo. Com esse horizonte aberto fiz outros contatos para a itinerância da primeira exposição da Gravura Popular Brasileira, no circuito dos museus europeus, e quem sabe no mundo. O diretor do Gabinete de Estampas da Basiléia, Hans-Peter Langdolf, por exemplo, recebeu com entusiasmo a Mostra e escreveu um texto sobre a coleção que, em seguida, foi exposta no Gabinete de Estampas da Biblioteca Nacional de Paris e noutras instituições francesas e suíças, tanto no circuito oficial da gravura, como fora dele. Findada a agenda da primeira itinerância, o outro lote dessa coleção circulante foi confiada ao professor Jean-Pierre Bousquet, que lecionava Arte e Técnicas de Gravura na região parisiense, que desenvolveu com ela uma vasta agenda de exposições em escolas e centros de estudos de arte e cultura. Para minha emoção e surpresa recebi nos anos 90 um pacote do Jean-Pierre Bousquet – era este tesouro da nossa gravura que voltava à terra depois de tantos serviços prestados, vinha acompanhado de uma carta de agradecimentos e a participação de que estava se aposentando e, portanto, devolvendo ao Museu sua preciosa coleção.
Meu desejo é que este lote (que apesar de ser impressa no delicado papel japonês, chegou em perfeito estado) volte para o Cariri, considerando que o Mauc possui as matrizes, não perderá nada com o gesto, estará sim, fazendo justiça. O mais legítimo seria que ela fosse para uma instituição no Juazeiro, posto que ela vem de lá, mas, na falta de local adequado que vá para o Crato onde possa não somente ficar exposta, mas estudada e que possibilite ações que se revertam em benefícios não somente para a gravura enquanto qualidade, mas em benefícios materiais para os bons gravadores ativos na Região. Falei à época com o reitor Antônio Albuquerque, da UFC, e com o diretor do Mauc, conversei também com instituições do Cariri, mas até o momento nenhuma medida foi tomada. Mas, eu não vou ficar sossegado enquanto isso não for resolvido. Seria importante também que a Universidade Federal do Ceará fizesse uma edição mais apropriada dessas gravuras. A Coleção que expúnhamos, tinha tiragem em papel japonês, que não é muito bom para nossa gravura. Minha sugestão é de que se providencie uma edição em papel adequado e que se faça um bom catálogo de modo a levá-la a circular pelo mundo. Nossa gravura popular é muito importante. A do México e do Peru também, sobretudo a do México.
Voltando aos inícios dessa ideia do Museu-Escola. Regresso ao Ceará em 1961, o Museu de Arte da Universidade já estava instalado num casarão no local de hoje, e a ideia prosperava com oficinas, cursos, aglutinando artistas e público. Zenon Barreto, José Tarcísio, Nearco Araújo, José Fernandes, dentre outros artistas, trabalhavam nas suas dependências com seus ateliês instalados. Eu mesmo fiz vários anéis e chapas em aço para anéis naquele ambiente de muito movimento. Nesta viagem me aprofundei na pesquisa da xilogravura em Juazeiro do Norte, e neste capítulo entra a encomenda do álbum da Via Sacra do Mestre Noza, a encomenda ao Walderedo Gonçalves do álbum Apocalipse (que à época fazia rótulos para uma indústria de vinagre do Maranhão, e este álbum ele só faria anos depois sem nenhum vínculo comigo). Colada ao cordel, de fato, a xilogravura de Juazeiro estava sem horizontes. Bati na porta de todos os antigos gravadores e a conversa era a mesma: “não trabalho mais com isso que não tem futuro”. Não sem esforço, consegui seduzir Mestre Noza que fazia cabos de revólver para a Taurus. Exultante com o resultado de sua Via Sacra estudei outras possibilidades para a gravura de Juazeiro que apresentei ao Reitor, como edições não só de cartão postal, álbuns, mas de reproduções como as realizadas na Calcografia do Louvre, além de sua pesquisa e de outros procedimentos para sua preservação e difusão mundo afora (lamentavelmente a equipe que se estabeleceu na instituição não entendeu o espírito do seu criador).
Gato (Aldemir Martins)
Píntura Acrílica
100 x 82 cm, 1979
Coleção Aldemir Martins / Mauc / UFC
Casa de Farinha (Barrica)
Desenho
33 x 22 cm, 1961
Coleção Barrica / Mauc / UFC
Rendeira (Aldemir Martins)
Pintura Acrílica
100 x 82 cm, 1979
Coleção Aldemir Martins / Mauc / UFC
Anjos de novena (Descartes Gadelha)
Pintura Óleo; Tela
40 x 60 cm, 1943
Coleção Descartes Gadelha / Mauc / UFC
Flora Azul (Antônio Bandeira)
Pintura Óleo; Tela
146 x 89 cm, 1958
Coleção Antônio Bandeira / Mauc / UFC
Conselheiro pregando sertão adentro (Descartes Gadelha)
Pintura Óleo; Tela
110 x 86 cm, sem data
Coleção Descartes Gadelha / Mauc / UFC
Cidade Queimada de Sol (Antônio Bandeira)
Pintura Óleo; Tela
120 x 120 cm, 1959
Coleção Antônio Bandeira / Mauc / UFC
Abstração (Estrigas)
Pintura Óleo; Tela
21 x 26,5 cm, sem data
Coleção Estrigas / Mauc / UFC
O Mundo de Silvana (Floriano Teixeira)
Pintura Óleo; Tela
55 x 55,5 cm, 1970
Coleção Floriano Teixeiras / Mauc / UFC
Recordação de Estocolmo (Heloysa Juaçaba)
Pintura Óleo; Tela
155 x 75,5 cm, 1971
Coleção Heloysa Juaçaba / Mauc / UFC
Dormindo na poltrona (Jean-Pierre Chabloz)
Pintura Óleo; Madeira
87 x 68 cm, sem data
Coleção Jean-Pierre Chabloz / Mauc / UFC
Escombros III (Nearco)
Pintura Guache; Papel
41,3 x 31,4 cm, 1963
Coleção Nearco / Mauc / UFC
Maternidade (Raimundo Cela)
Pintura Óleo; Tela
70,5 x 60 cm, 1940
Coleção Raimundo Cela / Mauc / UFC
sem título (Roberto Galvão)
Pintura Óleo; Tela
90 x 90 cm, sem data
Coleção Roberto Galvão / Mauc / UFC
sem título (Roberto Galvão)
Pintura Óleo; Tela
104 x 104 cm, sem data
Coleção Roberto Galvão / Mauc / UFC
Le Grand Bouclier (Sérvulo Esmeraldo)
Gravura sobre metal - Água-forte, água tinta, e burril sobre papel
56,1 x 38 cm, 1958
Coleção Sérvulo Esmeraldo / Mauc / UFC
Caramuru (Stênio Burgos)
Pintura Óleo; Tela
40 x 48 cm, 2008
Coleção Stênio Burgos / Mauc / UFC
Cangaceiro (Zé Pinto)
Escultura Fundição; Sucata
100 cm, sem data
Coleção Zé Pinto / Mauc / UFC
Maria Bonita (Zé Pinto)
Escultura Fundição; Sucata
215 cm, sem data
Coleção Zé Pinto / Mauc / UFC
Arco-íris - Série Pedras (Zé Tarcísio)
Gravura Litografia; Papel
57 x 78 cm, 1974
Coleção Zé Tarcísio / Mauc / UFC