"Precisamos ser melhor formados para depois ficar bem informados. Essa é uma tarefa da universidade. Ensinar é produzir a possibilidade da produção do conhecimento por parte do aluno.” O filósofo Paulo Freire (1921-1997), patrono da educação brasileira, convida ao diálogo: qual é o lugar da universidade? Do latim universitas, termo que remonta ao imaginário de universalidade e totalidade, a universidade é um farol de transformação do tecido social por excelência. Eleita a melhor instituição de ensino superior do Norte e Nordeste do Brasil pelo britânico Times Higher Education (THE), a Universidade Federal do Ceará (UFC) completa 70 anos de fundação em 2024 com um legado que atravessa o tempo.
Ao longo de sete décadas, a UFC graduou 117.700 pessoas. A Universidade carrega números expressivos: em 2023, registrou 28.206 alunos matriculados em 123 cursos de graduação, incluindo dez cursos a distância; 2.836 alunos nos cursos de mestrado acadêmico e 822 no mestrado profissional; além de contar com pesquisadores em 51 doutorados e 20 especializações. Os docentes também são responsáveis pelo lastro internacional da instituição — 514 de seus cientistas foram incluídos na lista dos melhores do mundo na edição do AD Scientific Index de 2024, sistema de classificação e análise baseado no desempenho científico e no valor agregado da produtividade de pesquisadores individuais.
A autarquia vinculada ao Ministério da Educação foi criada pela Lei nº 2.373, de 16 de dezembro de 1954, mas o sonho coletivo foi forjado muito antes: a primeira instituição de ensino superior do Estado foi a Faculdade Livre de Direito do Ceará, fundada em 21 de fevereiro de 1903, por nomes como Thomaz Pompeu, Antônio Augusto de Vasconcellos, Thomaz Accioly, Eduardo Studart, Sabino do Monte e outros intelectuais. O curso começou a funcionar no andar superior do antigo prédio da Assembleia Legislativa, que hoje abriga o Museu do Ceará, situado na Praça dos Leões, em Fortaleza.
Dos bancos da pioneira Faculdade de Direito, um aluno ilustre revolucionou o fazer acadêmico cearense: Antônio Martins Filho (1904-2002), principal interlocutor do movimento que reivindicou a criação da então Universidade do Ceará, a primeira universidade do Estado — inicialmente, constituída pela união da Escola de Agronomia, da Faculdade de Direito, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Farmácia e Odontologia. Nasceu assim a futura UFC, fruto de mobilização popular pelo direito à educação.
Sediada na capital Fortaleza, onde abriga os campi do Benfica, Pici e Porangabuçu, a Universidade Federal irriga o território cearense com campi em Sobral, Quixadá, Crateús, Russas e Itapajé. Na pluralidade de conhecimentos heterogêneos que se entrelaçam, ancestrais e contemporâneos, a universidade amplia o universal pelo regional ao criar uma ecologia de saberes.
A criação de uma universidade na efervescente e ensolarada cidade de Nossa Senhora da Assunção, defendeu o jurista Antônio Martins Filho em artigo publicado na Revista do Instituto do Ceará em 1949, já não era novidade à época dos escritos: com efeito, nos idos de 1944, o médico doutor Antônio Xavier de Oliveira encaminhou um relatório sobre a federalização da Faculdade de Direito do Ceará ao então Ministério da Educação e Cultura. A universidade já representava, então, uma necessidade imposta aos interesses educacionais da coletividade.
Antônio Martins Filho, nascido a 22 de dezembro de 1904 no Crato, foi um homem à frente do seu tempo — de entregador de jornais a caixeiro comerciante, liderou um cinema, um jornal e até mesmo uma editora antes de tornar-se o primeiro reitor da Universidade Federal do Ceará. Sua história confunde-se com a da UFC: ao longo dos anos que marcaram a constituição do sistema universitário, defendeu aguerrido a unidade administrativa e didática, o estímulo ao campo da pesquisa, os laços de solidariedade entre mestres e alunos e o lugar da universidade a serviço da cultura e da civilização.
Os primeiros passos de Martins Filho na educação se deram ainda em 1925, quando foi convidado a substituir um professor da Escola 13 de Maio, no Cariri. Foi professor do Liceu e de outras instituições de ensino de Fortaleza e, em 1945, tornou-se professor catedrático por concurso e doutor em Direito.
Intelectual nato, apaixonado pelo ofício e pela cultura da terra, Martins Filho carrega a alcunha de “Reitor dos Reitores”. Por entre os mangueirais da Gentilândia, instalou a Reitoria e fez nascer também o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), o primeiro do gênero no Ceará. A obra pioneira comprada para o acervo da universidade foi “Rolando Para Terra” (óleo/ tela – 1946), do sobralense Raimundo Cela (1890-1954).
Nos quintais da casa patriarcal ocupada pela Reitoria, utilizou a garagem defasada para abrigar impressoras linotipos, prenúncio do parque gráfico do que seria em breve a Imprensa Universitária do Ceará. O professor expandiu sua atuação e exerceu papel decisivo também na fundação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em 1977, na qual foi reitor agregado. Em 1986, criou ainda a Universidade Regional do Cariri (Urca).
Membro do Conselho Federal de Educação pelo período de 13 anos, Martins Filho também era afeiçoado à poesia e ocupou a vaga de presidente de honra da Academia Cearense Letras desde 1967 até a sua morte, em 2002. Sete décadas depois da pedra fundamental, o lema do fundador vibra as paredes da Universidade: “Como Universidade, cultivamos o saber. Como Universidade do Ceará, servimos ao meio. Realizamos assim o Universal pelo Regional”.
Futuro campus Iracema inclui estrutura ainda em obras do Acquario Ceará. Aurélio Alves/O POVO
Mauc foi o primeiro de arte instalado no Estado. Sara Maia, em 1/7/2012
Custódio Almeida na cerimônia de posse na Concha Acústica da Reitoria. Fernanda Barros/O POVO
Custódio Luís Silva de Almeida, reitor na Universidade Federal do Ceará desde 2023 e com mandato até 2027, celebra a figura de Martins Filho como fundador vanguardista. “Em 1954, no Ceará não existia universidade. Então, foi necessária a figura de um desbravador. Martins Filho fez um trabalho gigantesco antes de a Universidade ser legalmente criada. Isso significa que ele entrou numa fase que exigia a figura de um visionário, de alguém que entendesse a importância da universidade para o Estado, para o País”, resgata.
“O reitor é uma figura que precisa ter visão de conjunto, que precisa entender o sentido da instituição universitária para o mundo. A universidade é a instituição mais universal do planeta. Universal por quê? Porque ela está em todos os recantos geográficos do mundo, é desejada por todos, é uma instituição que transforma e é desejada por isso, porque transforma o local onde se instala. A universidade não se desinstala, porque ela tem uma missão para além de serviços específicos: é uma missão de conquista de liberdade, uma missão criativa que preenche espaços vazios e produz em cima do que ainda não existe”, defende Custódio Almeida.
O reitor e o vice-reitor de universidades federais são nomeados pelo presidente da República, escolhidos entre os indicados em listas tríplices elaboradas pelo colegiado máximo da instituição. Dentre as funções do regente, destaca ainda o reitor na UFC, uma das mais desafiadoras é evitar os desbalanceamentos.
Quando Martins Filho forjou a construção do Mauc, no mesmo fôlego que norteou o nascimento da Universidade do Ceará, muitos o acusaram de esbanjar dinheiro do povo — como descreveu no livro “Elogio aos Doutores e outras mensagens” (1995).
“Mas a visão do reitor não pode ser apenas a do mercado. O mercado é importante, mas muitas vezes é a universidade que cria o mercado. Muitas vezes, onde não há aquele mercado específico, a universidade é capaz de produzi-lo. A universidade tem essa característica por uma razão básica: ela trabalha com inteligência”, adiciona o reitor.
Aos 70 anos de Universidade Federal do Ceará, Custódio Almeida acredita: a história da UFC é repleta de futuros possíveis. “Estamos acendendo as luzes para que todos percebam como a UFC faz bem para a sociedade, como essa instituição promove diálogo, promove ciência, promove paz, promove cultura, promove emancipação humana.”
Reitores da Universidade Federal do Ceará
1955 – 2024
Antônio Martins Filho (fundador) †
Período: de 27/5/1955 a 21/2/1967
Fernando Leite †
Período: de 25/2/1967 a 25/2/1971
Walter de Moura Cantídio †
Período: de 15/4/1971 a 17/3/1975
Pedro Teixeira Barroso †
Período: de 19/5/1975 a 18/5/1979
Paulo Elpídio de Menezes Neto
Período: de 23/5/1979 a 22/5/1983
José Anchieta Esmeraldo Barreto
Período: de 21/6/1983 a 20/6/1987
Raimundo Hélio Leite
Período: de 21/6/1987 a 21/6/1991
Antônio de Albuquerque Sousa Filho
Período: de 21/6/1991 a 20/6/1995
Roberto Cláudio Frota Bezerra †
Período: de 30/6/1995 a 30/6/1999 e 30/6/1999 a 29/6/2003
René Teixeira Barreira
Período: de 30/6/2003 a 2/1/2007
Luís Carlos Uchôa Saunders
Período: de 3/1/2007 a 19/6/2007 (pró-tempore)
Ícaro de Sousa Moreira †
Período: de 20/6/2007 a 16/4/2008
Jesualdo Pereira Farias
Período: de 17/4/2008 a 22/10/2008 (pró-tempore) e 23/10/2008 a 23/4/2015 (reeleito)
Henry de Holanda Campos
Período: de 19/8/2015 a 21/8/2019
José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque
Período: de 23/8/2019 a 24/8/2023
Custódio Luís Silva de Almeida
Período: de 25/8/2023 a 2027
Fonte: Memorial da UFC.
Pautada na tríade ensino, pesquisa e extensão, a UFC pulsa possibilidades. As Casas de Cultura Estrangeira ofertam cursos de línguas para a comunidade. OPOVODOC
Alma mater do ensino superior cearense, a UFC soma significativas contribuições ao desenvolvimento acadêmico, científico, tecnológico, social, cultural e econômico brasileiro. A Universidade, pautada na tríade ensino, pesquisa e extensão, pulsa possibilidades para dezenas de milhares de alunos, egressos, seus familiares e outros beneficiados com as ações que atravessam os muros das salas de aula — e essas transformações, sim, são imensuráveis.
Aluno do curso de Publicidade e Propaganda, vinculado ao Instituto de Cultura e Arte (ICA), João Marcos Maia ingressou na universidade em 2021. Natural de Vazantes, distrito de Aracoiaba, semiárido cearense, o jovem encontrou na UFC a oportunidade de construir carreira na área que almeja desde cedo: a arte.
“Na minha cidade, as faculdades têm um apelo mais pedagógico. Então, ou você é professor ou é agricultor. Para mim, que queria um rumo totalmente diferente, a universidade pública mudou a perspectiva. Eu saí de casa, deixei a família e os amigos antigos para construir um novo caminho em Fortaleza”, compartilha. BigMark, como é conhecido na cena artística, envolveu-se com projetos culturais ainda no seu município de origem e atuou com dança, música, pintura e audiovisual.
“Fui bolsista do Programa de Promoção da Cultura Artística (PPCA) durante quase dois anos, entre 2022 e 2023, no qual desenvolvi um trabalho de acervo, de como documentar em audiovisual como o ICA [Instituto de Cultura e Arte] guarda a memória dos cursos. Também integrei a Rastro, que é uma agência júnior do curso de Publicidade e Propaganda”, enumera BigMark. Para o estudante, que conheceu a Universidade em meio às aulas remotas durante a pandemia de Covid-19, é tempo de descobrimentos.
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Química, Nonato Fernandes já vivencia a universidade pública em suas oportunidades e desafios desde 2011, quando ingressou na graduação e tornou-se monitor de uma disciplina. Em 2013, dois anos depois, o estudante realizou intercâmbio no Canadá pelo programa de pesquisa Ciência Sem Fronteiras*.
“Foi umas das melhores experiências da minha vida. Aprendi inglês, conheci novas culturas e até me entendi melhor profissionalmente, pois comecei a estagiar em laboratório e me encontrei na pesquisa. Quando voltei, comecei a fazer iniciação científica. Daí, já segui direto para o mestrado e o doutorado em Química também pela UFC”.
Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Nonato cursou parte do doutorado na Université Laval em Québec, no Canadá, no laboratório de biomateriais e engenharia regenerativa de tecido.
O pesquisador estudou a aplicação de polímeros brasileiros e de origem natural na área médica, mais especificamente na regeneração de cartilagem. “Ao terminar o doutorado, quero ser professor universitário e essas experiências internacionais com certeza farão uma enorme diferença não só para mim, mas para os futuros alunos que eu terei. A intenção é realmente passar a bola para frente”, pontua.
Para Nonato, o corpo docente dos departamentos ainda carece de renovação e atualização para tornar a universidade um espaço mais acessível, menos pautado em números e mais atento às múltiplas vivências.
Campus do Pci Prof. Prisco Bezerra: à direita, o Açude Santa Anastácio, construído em 1918 pelo represamento do Riacho Alagadiço Grande, efluente da Lagoa da Parangaba. Aurélio Alves/O POVO
“Durante a graduação, fiz parte do Centro Acadêmico do meu curso e acho interessante como a universidade consegue proporcionar experiências que vão além do conteúdo da sala de aula, como Programa de Educação Tutorial (PET), empresa júnior, monitorias, dentre outras. Essas atividades são fundamentais para traçar o perfil profissional de quem está começando. Acredito que estamos no caminho”, defende.
A UFC une ações nas mais variadas frentes, como assistência estudantil, gestão de pessoas, relações internacionais, casas de cultura estrangeira, equipamentos culturais, sistema de bibliotecas e hospitais universitários. Manoel Odorico de Moraes, professor de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFC, destaca que todos os importantes projetos no Ceará tiveram, direta ou indiretamente, a participação da UFC, inclusive a criação de outras universidades e centros universitários.
“A função de uma universidade é gerar conhecimento novo e transmiti-lo aos seus alunos, além dos conhecimentos mais atuais gerados em todo o mundo. Para que isso ocorra a contento, é preciso acesso às novas tecnologias de comunicação e transmissão do conhecimento por meio do uso dos recursos de informática e telecomunicação”, destaca o professor.
Doutor em Oncologia pela Universidade de Oxford, Odorico ingressou no magistério universitário em 1977, como professor do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da UFC, ministrando a disciplina de Farmacologia.
Dentre as contribuições sociais da Universidade, o docente ressalta a implantação dos medicamentos genéricos no Brasil. Por meio dos estudos pioneiros da equipe comandada pela professora Elisabete Moraes na área de Farmacologia Clínica, a partir dos testes de biodisponibilidade/bioequivalência, foi possível validar a primeira centena de medicamentos genéricos do País, o que contribuiu para a implantação da política de genéricos no Brasil. Com isso, segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 30 milhões de brasileiros tiveram acesso aos medicamentos convencionais.
“Atualmente, mais de 2.300 pessoas receberam transplante de fígado no Ceará. Esse trabalho hercúleo sob a batuta do professor Huygens Garcia, da Famed-UFC [Faculdade de Medicina], começou no laboratório de cirurgia experimental, sob a nossa orientação. Considero este também um grande legado da UFC, para o Ceará e o Brasil, uma vez que pessoas de todo o País têm sido transplantadas pela equipe do doutor Huygens”, complementa. “Sempre achei que a pesquisa na universidade deve ser convertida em bem social.”
A pesquisa da pele de tilápia revolucionou o tratamento de queimaduras. Mariana Parentes, em 12/7/2017
Desde 2015, mais um trabalho iniciado na UFC revoluciona o tratamento de queimaduras e ganha cada vez mais destaque em institutos de pesquisa e hospitais mundo afora: a pesquisa da pele da tilápia, que já é usada também em mais de 30 outras aplicações, como na veterinária, no tratamento de úlceras, em cirurgias de reconstrução vaginal e na redesignação sexual.
Em 2023, após oito anos de avanços, os estudos com esse material garantiram a sua primeira patente no Brasil. As descobertas iniciais foram alcançadas no Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, sob coordenação do professor Odorico de Moraes.
Elmo, capacete de respiração assistida, foi desenvolvido por pesquisadores da UFC e da Escola de Saúde Pública, com apoio da Fiec-Senai, para auxiliar pacientes de Covid. Tatiana Fortes/Governo do Ceará
Professora emérita da UFC, Helena Pitombeira soma-se ao colega de profissão: “A UFC não é apenas uma instituição de ensino. Ela é um rico patrimônio do Estado e do País. Ela é a mãe de todas as outras universidades que existem no Ceará, formando docentes e excelentes profissionais. A UFC tem representação internacional por meio de seus professores/cientistas, constantes na lista de avaliação dos melhores do mundo”.
Eleita para a Academia Nacional de Medicina, a docente se graduou em Medicina em 1963, ingressando inicialmente no então Departamento de Clínica Médica. Na administração superior, exerceu as funções de vice-reitora e pró-reitora.
Também na Faculdade de Medicina da Universidade Federal, Helena Pitombeira exerceu as funções de coordenadora do Curso de Especialização em Hematologia e Hemoterapia, sendo a responsável maior pela implantação do mestrado em Clínica Médica. “Gostaria de enfatizar o que representamos na área dos transplantes renais, hepáticos e nos últimos 16 anos, o transplante de células-tronco hematopoiéticas, trazendo grandes benefícios para nossos pacientes e para a sociedade”, ressalta a profissional.
Em 2023, a UFC celebrou mais um marco histórico: os 15 anos de serviço de transplantes de medula óssea, executados em parceria entre o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), vinculado ao Complexo Hospitalar gerido pela Universidade, com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), equipamento do Governo do Estado do Ceará. Ao longo desse período, quase 800 pacientes foram beneficiados.
Ainda na área da saúde, pesquisadores da UFC protagonizaram mais uma importante inovação científica com o desenvolvimento do Elmo, capacete de suporte respiratório a pacientes hospitalizados com Covid-19 que beneficiou 40 mil pessoas em todo o território nacional. A iniciativa, coordenada pelo professor doutor da UFC, Marcelo Alcantara, reuniu, além da Academia, o governo estadual e empresas privadas. Medida pela ausência de intubação dos pacientes, a taxa de sucesso do equipamento foi de 66%.
Universidade múltipla e premiada nas suas mais diversas áreas do conhecimento, a UFC desenvolve e mantém projetos de pesquisa e extensão que beneficiam direta e indiretamente os territórios onde seus campi se inserem.
Ensino: a missão da Universidade Federal do Ceará é formar profissionais da mais alta qualificação, gerar e difundir conhecimentos, preservar e divulgar os valores éticos, científicos, artísticos e culturais, constituindo-se em instituição estratégica para o desenvolvimento do Ceará, do Nordeste e do Brasil. No cumprimento dessa missão, a UFC ministra cursos de graduação, pós-graduação e extensão que atendem a demandas de formação da sociedade e estimulam a pesquisa científica e tecnológica em todos os campos do saber.
Pesquisa: a pesquisa científica é uma prática humana que consiste de um conjunto de atividades metódicas, racionais, objetivas e criteriosas, cujo objetivo é descobrir a lógica, a dinâmica, a coerência e a consistência de dados procurando argumentações e/ou respostas às questões relevantes para esclarecimentos de fenômenos da natureza. Ela eleva o nível do pensamento, aprofundada pela reflexão crítica de questões já abertas, explorando o raciocínio, a intuição e a experiência de domínios ainda desconhecidos do nosso universo.
Extensão: a Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. No âmbito da Universidade Federal do Ceará, as ações de extensão são desenvolvidas nas seguintes áreas temáticas: Comunicação, Cultura, Direitos Humanos, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Trabalho. A UFC realiza ações de extensão sob a forma de programas, projetos, cursos, eventos e prestação de serviços.
Campus Quixadá foi instalado em 2007 na região do Açude do Cedro, um dos pontos turísticos do município, e oferta cursos na área de Tecnologia da informação e Comunicação (TIC)
Campus de Itapajé - Jardins de Anita é o mais novo
Campus de Crateús, no Oeste do Ceará
A política de expansão e interiorização da universidade pública capilariza a educação superior ao possibilitar acesso a uma parcela maior da população. O reconhecimento do papel estratégico universitário para o desenvolvimento econômico e social descentralizados irriga o Ceará com campi em Sobral, Quixadá, Crateús, Russas e Itapajé.
Situado na região noroeste do Ceará, a 224 km de Fortaleza, o município de Sobral foi o primeiro a receber um novo campus da Universidade Federal do Ceará, com a implantação do curso de Medicina em 2001. No processo de expansão do Ministério de Educação e Cultura, em 2006, foram aprovadas as graduações em Ciências Econômicas, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Odontologia e Psicologia.
Em 2007, a UFC inaugurou a unidade em Quixadá, cidade considerada a capital do Sertão Central. O campus está localizado em um dos pontos turísticos mais visitados do município, a região do Açude do Cedro, e dedica-se exclusivamente à área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC): oferece graduações em Ciência da Computação, Design Digital, Engenharia de Computação, Engenharia de Software, Redes de Computadores e Sistemas de Informação, além do Mestrado em Computação.
O campus de Crateús foi criado na UFC em dezembro de 2012, ocupando a região oeste do Ceará. Os cursos ofertados são Ciência da Computação, Engenharia Civil, Engenharia Ambiental, Sistemas de Informação e Engenharia de Minas, voltados para as engenharias e computação, áreas estratégicas para a expansão do território. Em Russas, cidade na região do Jaguaribe, as atividades acadêmicas foram iniciadas com a primeira turma de Engenharia de Software no segundo semestre de 2014. A partir de 2015, começaram a ser ofertados também os cursos de Ciência da Computação, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção.
Em 2023, a UFC inaugurou seu mais recente campus, em Itapajé, a 125 km de Fortaleza. Intitulada Jardins de Anita, a unidade foi pensada inicialmente para abrigar nove cursos de licenciaturas, mas logo a ideia deu lugar à proposta de implantação de três cursos de graduação tecnológica: Tecnologia em Ciência de Dados, Tecnologia em Segurança da Informação e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
No ano de 2001, a UFC adentrou o Cariri cearense ao implantar o curso de Medicina na cidade de Barbalha, a 548,30 km de Fortaleza. Cinco anos depois, implantou na região outras cinco graduações: Administração, Agronomia, Biblioteconomia, Engenharia Civil e Filosofia (Bacharelado e Licenciatura), cujas aulas ocorriam nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato. No ano seguinte, foram criados os cursos de Jornalismo, Engenharia de Materiais e os antigos cursos de Educação Musical (atual Licenciatura em Música) e de Design de Produto (atual Bacharelado em Design). Entre 2010 e 2011, foi a vez de a região ganhar o campus Crato.
No dia 5 de junho de 2013, entretanto, a Lei 12.826 criou a Universidade Federal do Cariri (UFCA) e garantiu a autonomia da nova universidade, um desdobramento da UFC. Composta por cinco campi — Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Brejo Santo e Icó —, a Universidade é fruto dessa multiplicação do fazer universitário. Cauê Henrique, egresso do curso de Jornalismo da UFCA, celebra a atuação institucional em seus quatro pilares: ensino, pesquisa, extensão e cultura. “Entrei no curso em 2016 e tive uma bolsa de extensão muito proveitosa. Na UFCA, temos uma Pró-Reitoria específica para a cultura, o que direcionou bastante o meu trabalho para a integração cultural como um todo. Em alguns anos, propus projetos de iniciativas da comunidade acadêmica; em outros, fui bolsista de projetos institucionais”, relembra.
Atualmente, Cauê Henrique atua como produtor cultural concursado na Pró-Reitoria de Cultura (Procult/UFCA), concebida como um setor que trama a cultura numa dimensão estratégica e formadora da comunidade acadêmica.
“Acredito que a UFCA é uma instituição muito receptiva, muito aberta. Senti que existiam outros meios de formação além da sala de aula e aproveitei bastante, explorei tudo o que a Universidade tinha para oferecer durante a graduação: participei de grupos de estudo e de pesquisa, bolsas de projeto, atividades voluntárias, construção do estatuto do Diretório Central dos Estudantes… Construí movimentos estudantis e toda essa experiência foi bastante enriquecedora. Acredito que, de muitas formas, a UFCA colaborou com os caminhos que venho escolhendo trilhar. Acho que estar neste lugar introduziu muitas questões que moldaram o artista e o profissional que sou hoje, tanto como produtor cultural quanto como pesquisador.”
Para Cauê, aluno egresso e hoje trabalhador da UFCA, continuar construindo uma universidade democrática e plural é um desafio cotidiano. “A educação é um elo frágil que fica sujeito à falta de estrutura e à falta de investimento”, pontua. Acesso, permanência e relação dos ex-alunos com a universidade são questões que atravessam o fazer acadêmico.
Ao longo de sete décadas, a paisagem do cruzamento da Avenida 13 de Maio com a Avenida da Universidade se transformou. A presença do reitor Martins Filho, imortalizada em estátua de bronze nos jardins da Reitoria, parece o elo firme entre a tradição e a contemporaneidade. A Universidade não é testemunha silenciosa das mudanças: é, sobretudo, agente do novo, ourives do futuro. Sobreviveu a ditaduras, a cortes orçamentários, ao descrédito da ciência. Reinventou-se na força do conhecimento.
No ano de 2010, a UFC substituiu o acesso via vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com vagas ofertadas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Dentro da Universidade, a Assistência Estudantil é uma das estratégias para ampliar as condições de permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade.
Os investimentos governamentais nas universidades públicas garantem não só o apoio às atividades de pesquisa e extensão, mas também à manutenção de auxílios e de bolsas estudantis, desporto, residência e restaurante universitário. Todas essas ações, em conjunto, contribuem para a melhoria do desempenho e consolidam a UFC como uma universidade com “amanhãs possíveis”.
A Camerata de Cordas da UFC é um grupo de formação à prática instrumental, coordenado pelas professoras Liu Man Ying (foto) e Dora Utermohl de Queiroz. Museu da Imagem e do Som do Ceará/Divulgação
“A Universidade hoje está à altura de sua história, e 70 é uma data extremamente importante para ser celebrada por todos. A UFC tem uma história tão sólida que conseguiu atravessar turbulências e desafios sem grandes prejuízos, com departamentos funcionando e mais de 500 cientistas entre os melhores do mundo”, celebra a professora Irlys Alencar Firmo Barreira, pesquisadora 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará.
Localizadas no Centro de Humanidades III, ao lado da Reitoria, a graduação e a pós em Ciências Sociais e Sociologia formaram cientistas que também pesquisam as profundas mudanças sociais vivenciadas com e a partir da presença da Universidade. “As ciências sociais podem contribuir significativamente para identificar problemas e pensar em mudanças de longo prazo, não apenas soluções imediatas, por meio de uma abordagem interdisciplinar.
As ciências humanas são essenciais, pois contribuem para identificar problemas urbanos, desigualdades sociais e para o desenvolvimento de políticas públicas”, destaca Irlys Firmo.
Pós-doutora na École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris e no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, a docente já se aposentou, mas segue atuando como voluntária na UFC por acreditar no potencial revolucionário do ensino.
“Desejo que a universidade continue crescendo e ampliando as experiências de pesquisa, além de investir em recursos desde os primeiros anos dos estudantes na instituição. Devemos formar indivíduos com uma massa crítica suficiente para desenvolver projetos e incentivar a pesquisa desde o início”, adiciona.
Oriundo da área de Engenharia Civil, o professor Ernesto Pitombeira vivenciou a UFC enquanto aluno, professor universitário, diretor do Centro de Tecnologia, chefe de Departamento, coordenador de Curso e pró-reitor de Planejamento.
São essas décadas de experiência que possibilitam uma visão ampla sobre a Universidade e seus caminhos: “Vejo o futuro da Universidade com muito otimismo, a partir dos seus alunos, técnicos administrativos, professores. A Universidade tem um futuro brilhante, e o presente já não é desprezível: é muito interessante, por exemplo, ver quantas novidades, quantos programas de extensão a universidade já executou”.
A Universidade, postula Ernesto Pitombeira, edifica-se além das passagens individuais. O legado deste trabalho, edificado a tantas mãos, é plural e manifesta-se na dialética com o social: “A relação universidade-sociedade, particularmente Universidade Federal do Ceará e sociedade cearense, é de mão dupla. Eu acredito que a ideia de ver o filho cursando a UFC é de orgulho. Então, a Universidade só tem que fazer mais para entregar ainda mais à sociedade, e a sociedade serve de defesa da Universidade em qualquer circunstância, em qualquer situação. A sociedade cearense deve muito à Universidade, de tal forma que as duas se completam”.