70 anos da Fiec

Capítulo especial intitulado "70 anos da Fiec: uma efeméride na pandemia" conta a história das sete décadas da entidade

Capítulo Especial 2020-2021

70 Anos da Fiec: Uma Efeméride na Pandemia


A efeméride dos 70 anos da mais importante entidade empresarial do Ceará se confundiu com a pandemia de Covid-19. E, assim, um ano que deveria ter sido de comemorações se tornou um marco para mobilizações. A Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) se integrou ao esforço de guerra articulado com outras lideranças, de setores como o comércio, para agir em nome do atendimento aos infectados pelo coronavírus. No caso da Fiec, entrou em ação a necessária mobilização das empresas cearenses, por meio do reposicionamento de linhas de produção e do parque tecnológico e pessoal qualificado do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-CE). Do Senai-CE saíram Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como as face shields produzidas em impressoras 3D. O capítulo especial percorre a história da indústria no Estado e da Fiec, mas foca também no que o ano da pandemia mostrou sobre o setor secundário no Ceará.


Rotas Estratégicas definem para onde ir

Rotas Estratégicas definem para onde ir


A decisão da Fiec foi ir além do papel institucional e buscar vantagens competitivas para as indústrias do Ceará. Como parte desta mudança de rumo, era preciso definir para onde ir. Qual a rota. Quais as rotas. Desse modo nasceu a ideia de identificar as deficiências de cada segmento e trabalhar, juntando governo e empresários.


O trabalho foi estruturado em três eixos principais para definir as estratégias. São eles: Prospecção de Futuro para a Competitividade Setorial; Inteligência Competitiva; e Cooperação e Ambiência para o Desenvolvimento. O programa teve como referências iniciativas realizadas pelas federações do Paraná, a Fiep, e de Santa Catarina, a quase homônima Fiesc.


A equipe responsável mirou nos exemplos de contribuições da sociedade ao planejamento econômico estadual e iniciativas de maior importância para o desenvolvimento industrial local das últimas duas décadas. Somente após esta etapa, começaram a ser desenhadas as rotas estratégicas a serem percorridas. Noutros termos, caminhos mais adequados para cada um dos setores. A bússola das rotas tem grandes tendências e grandes carências também, como inovação.


Foram escolhidos 17 setores identificados como promissores para o desenvolvimento do Estado, reagrupados em 14 Rotas Estratégicas: Água; Biotecnologia; Construção e Minerais Não-Metálicos; Economia do Mar; Eletrometalmecânico; Energia; Indústria Agroalimentar; Logística; Meio Ambiente; Produtos de Consumo; Saúde; Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); Turismo e Enconomia Criativa; e Segurança Pública.


O chamado Programa para Desenvolvimento da Indústria é o guarda-chuva onde se abrigam as rotas. Elas partem da mesma premissa: o fortalecimento de setores intensivos em tecnologia e conhecimento, a reorientação de setores tradicionais, atentando, por exemplo, para a sustentabilidade.


Os marcos temporárias são 2018, 2020 e 2025. No plano de voo a ser seguido em cada uma das rotas, mapas dos caminhos a serem percorridos com base em estudos socioeconômicos, levantamento de tendências tecnológicas, sociais e setoriais.


Conheça as Rotas:

Água

O estudo apresenta informações em termos mundiais, relativizando, o papel do Brasil. Também aborda a gestão dos recursos hídricos no Brasil e no Ceará. Um dado: o Ceará possui uma demanda hídrica total de 929.920 m³ de água por dia, uma representação de 16% do Nordeste e 4% do Brasil, valores similares à participação da população do Estado. Quanto à demanda, a irrigação é a principal responsável (58%), seguida pelo consumo urbano (23%). Na sequência, um panorama sobre oferta, demanda, bem como um balanço da situação hídrica. Preocupou-se, também, em levantar informações sobre saneamento básico e qualidade. Inclui ainda análises sobre o segmento de aquicultura e o mercado de trabalho, bem como, o panorama dos cursos de graduação e pós-graduação e dos grupos de pesquisa afins do setor. São mostradas as diversas ações de investimentos.


Biotecnologia

O setor de biotecnologia se caracteriza por ser uma área transversal. Há atividades biotecnológicas em áreas como saúde humana, saúde animal, agricultura, energia e meio ambiente. Após contextualizar o setor em termos mundiais e brasileiros, aponta as localidades em que a área se destaca. Tem informações sobre a produtividade. O setor no mundo indica uma forte prevalência de empresas com menos de 50 funcionários, indicando ser intensiva em tecnologia e com alta produtividade por funcionário, provavelmente a partir da incorporação de técnicas biotecnológicas ao seu processo produtivo. Ademais, lista ativos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com um panorama dos cursos de graduação e pós-graduação e dos grupos de pesquisa com alguma relação com a área. São mostradas informações sobre os depósitos de patentes, tanto no mundo, como no Brasil.


Construção e minerais não-metálicos

O conteúdo traz a produtividade do setor, objetivando destacar o valor produzido por trabalhador. A seguir, um panorama do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. As análises do comércio internacional estão na seção seguinte, e, logo após, são apresentados os ativos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com um panorama dos cursos de graduação e pós-graduação e dos grupos de pesquisa com alguma relação com o setor. Na geração de empregos, o Ceará é o 10º no ranking, com cerca de 95 mil empregos, o que representa 3,1% do total. Do mesmo modo que no setor de Construção, São Paulo também se destaca no valor da transformação industrial de Minerais Não-Metálicos, com 32,48% de participação nacional. O Ceará, por sua vez, ocupa a 14ª posição no ranking, com 1,6% de representação.


Economia do mar

A Rota Estratégica de Economia do Mar apresenta os subsetores com suas informações específicas. Faz um panorama do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. Na indústria naval, no total das exportações por estado, o Rio de Janeiro foi aquele com maior representatividade: 81,8%, devido à sua presença dominante no segmento de construção de embarcações e estruturas flutuantes. Depois vêm Rio Grande do Sul e São Paulo, nesta ordem. O Ceará, com apenas 0,07% de participação, foi o 7º colocado neste ranking. Alguns dados: considerando a carga de Longo Curso que passa pelo Ceará, o valor é muito concentrado em Derivados de Petróleo e Carvão Mineral, responsável por 63,77% do total. A seguir aparecem Cereais (13,71%) e Contêineres (13,29%).


Eletrometalmecânico

Após contextualizar o setor em termos mundiais, relativizando, a atuação do Brasil, apresenta a produção no País, incluindo tabulações por subsetores; neste caso, há relativização do Ceará com as demais unidades federativas. Na sequência, informações sobre a produtividade do setor, objetivando destacar o valor produzido por trabalhador. Inclui uma visão geral do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. São mostradas as diversas ações de investimentos. Em tempo: o Brasil ocupa a sétima colocação no ranking mundial de produção, com 3,7% de representação. Sobre a produção nacional do setor Eletrometalmecânico, o Ceará ocupa o 12º lugar, com participação de 0,6%. Pouco, mas cresceu 63,8% no período de 2007 a 2013. A entrada em operação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) puxa este desempenho para cima.


Energia

Uma seção é dedicada à geração de energia no País, incluindo tabulações por subsetores; neste caso, há relativização do Ceará com as demais unidades federativas. O Ceará, responsável por 2,7% do total brasileiro, apresentou um crescimento de 260,6% em sua produção. Esse resultado pode ser atribuído aos investimentos realizados no Estado referentes às usinas eólicas e termoelétricas. Sobre a capacidade instalada no País para geração de energia elétrica, o Ceará responde por 1,8% da capacidade, com a 16ª posição no ranking. O Estado possui previstos cerca de 2.300 megawatts a mais do que sua atual capacidade, sendo que essa adição representa 5,4% do total no País. No caso das eólicas, o Estado possui 20% de participação nacional, além de ser responsável por cerca de 26% da potência dos empreendimentos futuros no Brasil. Com relação às termoelétricas, a participação cearense é de 4,9%, porém, o Estado terá quase 18% de participação na geração dos próximos empreendimentos.


Indústria Agroalimentar

ranking com os maiores produtores, composto por países populosos, evidencia também a relação entre população e valor adicionado na atividade. O Brasil ocupa a 5ª colocação, com produção avaliada em US$ 3,3 trilhões, ou seja, 3,4% do valor global. Em relação à produção de alimentos pela indústria, o Ceará ocupa a 10ª posição, com 1,8% do total. Quanto à produção de bebidas, o Ceará, com 2,6%, ocupa a 11ª posição. Considerando a produção agrícola, o Ceará é 10º colocado geral, com 1,6%, e o terceiro no Nordeste. O Estado é o maior produtor brasileiro de castanha de caju (58,4%). É ainda o maior produtor brasileiro em termos de aquicultura, com 16,4% do total nacional. Lidera em camarão, com quase metade da produção nacional. Na indústria de alimentos, ocupa 8,3%. Com relação à pauta de exportações no Ceará, ela é bem concentrada em cinco produtos — melões (25%) e castanha (20%) são destaques. A pauta de Importação tem como âncora os produtos de trigo, com 31,1% do total.


Logística

A rota mapeia o quadro atual e os potenciais do Estado, destacando os portos — Mucuripe (federal) e Pecém (estadual), em parceria com a estatal holandesa Port of Rotterdam — e aeroporto (concedido à alemã Fraport). Rastreia os modais referentes à qualidade, à infraestrutura atual e à intensidade de uso. Mostra panorama do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. Há análises do comércio internacional os ativos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, com um panorama dos cursos de graduação e pós-graduação e dos grupos de pesquisa com alguma relação com o Setor. Em tempo: segundo a “Pesquisa CNT de Rodovias 2014”, base para a Rota, o Ceará tem apenas 6% do modal classificado como ótimo ou bom, contra 10% no Brasil. O Estado, por sua vez, ocupa a 11ª colocação nesse ranking, com uma malha de 53.922,2 km, o que representa 3,1% da nacional.


Meio Ambiente

Apresenta as características e potencialidades econômicas no Ceará. Aponta as atividades econômicas e impactos ambientais gerados. Na sequência é abordada a infraestrutura e sua relação com o meio ambiente. Explora também degradação, legislação e gestão ambiental. Faz panorama dos cursos técnicos, de graduação, de pós-graduação e dos grupos de pesquisa com alguma relação com a área. Em tempo: o Ceará tem 93% de seu território inserido na região do semiárido do Nordeste, o qual, por sua vez, se caracteriza pela alta vulnerabilidade aos fenômenos da seca. Por outro lado, o clima predominante é o tropical quente, com 2.800 horas anuais de exposição ao sol, o que se constitui em diferencial turístico para o Estado. A rota lista os ativos ambientais com interesse turístico, como o litoral, parque de Ubajara e o Geopark Araripe. Quanto ao Potencial Poluidor Degradador (PPD) para atividades econômicas, 19% das indústrias (transformação e extração) cearenses possuem um alto PPD, enquanto que, em termos nacionais, essa participação é de 26%.


Produtos de Consumo

A Rota apresenta o setor em termos mundiais, relativizando, naturalmente, a atuação do Brasil. Uma seção é dedicada à produção no País, incluindo tabulações por subsetores; nesse caso, há relativização do Ceará com as demais unidades federativas. Na sequência, informações sobre a produtividade do setor, objetivando destacar o valor produzido por trabalhador. A seguir, um panorama do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. As análises do comércio internacional estão na seção seguinte, e, logo após, são apresentados os ativos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com um panorama dos cursos de graduação e pós-graduação e dos grupos de pesquisa com alguma relação com o setor. Por fim, são mostradas as diversas ações de investimentos.


De acordo com o total do Valor da Transformação Industrial (VTI), São Paulo e Santa Catarina possuem, conjuntamente, quase metade do VTI de Confecções do País. O Ceará, com 6,49%, ocupa a quinta posição. Em calçados e couro, por sua vez, o Ceará ocupa a 3ª posição, com 13,79% do VTI do Brasil, indicando a força do setor no Estado. Os maiores destaques, porém, são Rio Grande do Sul e São Paulo, com 30% e 19,36%. No segmento de móveis, o Ceará ocupa a 11ª posição, com participação de 1,7% no VTI brasileiro. São Paulo (25,4%), Rio Grande do Sul (20,9%) e Paraná (16,6%). Confecções concentram 45% dos vínculos do setor no País e 42% no Estado. Nas exportações, quanto a calçados e couro, o indicador do Ceará (27,5%) é maior do que o brasileiro (24,1%).


Saúde

A Rota Estratégica de Saúde apresenta o setor em termos mundiais, relativizando, naturalmente, a atuação do Brasil. São mostradas as diversas ações de investimentos e a importância do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) na área. Considera para efeito da pesquisa, cosméticos e higiene, TIC aplicada à saúde, saúde pública, instrumentos e materiais médicos e odontológicos. O Ceará possui 26 cursos de pós-graduação ligados ao setor, sendo 10 programas de doutorado, 16 de mestrado e nenhum de mestrado profissional. Produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com 61,4% do total de empregos, é o que mais tem vínculo, seguido de cosméticos & higiene, com cerca de 27%. Na produção nacional do setor de saúde, notam-se as maiores participações das regiões Sudeste e Sul, nesta ordem. O estado de São Paulo, sozinho, responde por quase 70% do total. Nessa direção, o Ceará ocupa o 11º lugar, com participação de 0,4%.


TIC

A Rota de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) tem incluída produtos de informática, telecomunicações, tecnologias de informação e serviços de informação. Nota-se que, tratando-se do Estado e do País, ambos têm como maior representante os serviços de Tecnologia da Informação (43,1% e 41,9% respectivamente). Em relação à representação no Brasil baseada na receita gerada pelo setor, o Ceará ocupa a 12ª posição, com uma representação de 1,2% do setor. O Cinturão Digital do Ceará (CDC), projeto do Governo do Estado para levar internet de alta velocidade para centros urbanos espalhados pelo Ceará, é um diferencial. Contando com 3 mil quilômetros de fibra óptica e 55 estações, o projeto alcança 53 municípios com sinal de rádio e 92 com infraestrutura de fibra óptica, atingindo 82% da população urbana do Estado. São 72 cursos de graduação ligados aos setores. De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ceará possui 78 grupos de pesquisas relacionadas ao setor. Esse quantitativo representa 14% do total do Nordeste e 3% do Brasil.


Turismo e Economia Criativa

A Rota Estratégica de Economia Criativa tem como objetivo subsidiar os especialistas no exercício de construir a visão de futuro do setor. Uma seção seguinte é dedicada a um panorama do mercado de trabalho, destacando os empregos e os estabelecimentos do setor, em diversas tabulações. Para fins do estudo, na utilização de dados quantitativos relacionados ao ramo do turismo para demonstração de como este se comporta atualmente, foram consideradas as seguintes atividades econômicas ligadas ao setor, como: transporte, atividades de recreação e lazer, alimentação e alojamento. Para economia criativa, foram definidos quatro grandes grupos (patrimônio, artes, mídia e criações funcionais) e nove subgrupos (expressões culturais tradicionais, locais culturais, artes visuais, artes performáticas, publicações e mídia impressa, audiovisual, design, new media e serviços criativos), excluindo-se P&D e incluindo publicidade.


Segurança Pública

A Rota Estratégica de Segurança Pública 2025 compreende a construção de planejamento de longo prazo, entregue à sociedade e ao Governo do Estado. Identifica os principais gargalos e apontamento de soluções para melhoria da segurança pública com viés interinstitucional e com ações de impacto direto — enfrentamento da criminalidade e atendimento ao sistema prisional e socioeducativo — e indireto através da governança e de atividades de prevenção. Para atender a essas peculiaridades relacionadas ao tema, a Rota Estratégica de Segurança Pública se estruturou a partir das seguintes dimensões: prevenção; segurança e defesa social; sistema prisional; sistema socioeducativo; governança. Surge da prerrogativa de que um ambiente de paz é mais favorável para a competitividade e produtividade das empresas, contribuindo significativamente para o desenvolvimento econômico local.


Ciclos da Industrialização Cearense

Ciclos da Industrialização Cearense


O desenvolvimento da indústria cearense acontece em ciclos protagonizados por alguns segmentos em diferentes regiões do Estado. Mesmo com o surgimento de novas atividades, as anteriores não deixam de existir. Enquanto a Inglaterra vivia a Revolução Industrial no século XVIII, o Brasil, ainda colônia de Portugal, tinha uma economia à base da exploração mineratória, e o Ceará, criação de gado para atender ao mercado interno.


Couro - Charqueada

No século XVIII, as cidades de Aracati e Acaraú já contavam com uma atividade pré-industrial com a pecuária. Em paralelo, oficinas eram abertas para beneficiamento do couro, dos chifres e da banha dos animais na fabricação de itens como selas, arreios, botas, gibões, chapéus, malas e baús, além da produção de carne-seca, popularmente conhecida como charque.


A Cia. Cearense de Curtumes, criada em 6 de junho de 1891, foi a primeira do segmento registrada no Estado. Era localizada no bairro Jacarecanga, em Fortaleza.


Cana-de-açúcar - Engenhos e Álcool

O cultivo de cana-de-açúcar proporcionou o surgimento dos engenhos dedicados à fabricação de açúcar, rapadura e aguardente. No século XIX, a produção ocupava o Cariri e as serras úmidas como Ipu e Ibiapaba. Já no litoral, os destaques eram Fortaleza, Aquiraz e Cascavel. Em 1860, o Ceará tinha 1.252 engenhos que demandavam alguns instrumentos e máquinas, além de propiciar à população alternativas à agricultura, à vaquejada e ao comércio.


Instrumentos de trabalho mais modernos, como máquinas de espremer mandioca para a melhoria da produção de farinha, só desembarcaram no Ceará em meados do século XIX.


Na década de 1970, o Ceará vive outro ciclo volumoso com a cana-de-açúcar. Dessa vez, com a crise do petróleo, o Governo Federal estimulava o cultivo para substituição da gasolina por álcool. Nesta fase, destacaram-se os municípios de Baturité, Redenção, Cascavel, Missão Velha, Ibiapina, Ubajara e Barbalha.


Algodão - "Ouro Branco"

A aridez do Ceará era um desafio para as culturas agrícolas, mas, adaptado, o algodão se apresentava como “ouro branco”. Além do cultivo, a produção de tecidos e fios aqueceu a economia. As indústrias de tecido despontavam. Em 1884, foi inaugurada em Fortaleza a Fábrica de Tecidos Progresso, de Thomás Pompeu de Souza Brasil e Antônio Pinto Nogueira Acioly, marco dessa fase.


Em 1891, surge na Capital, instalada no Boulevard do Imperador (Av. do Imperador), a Cia. Fabril de Meias, presidida por José Albano Filho, que tinha como concorrente o Colégio da Imaculada Conceição, que também mantinha a atividade.


Nas atividades de fiação e tecelagem, o destaque era a fábrica Pompeu & Gurjão, em Fortaleza (Rua Santa Isabel), e as fábricas Popular Aracatiense e Sobralense, em Aracati e Sobral, respectivamente.


Farmacêutico

Uma das atividades mais inovadoras foi a de farmácia. Inicialmente aproveitando-se do conhecimento das propriedades da natureza. O embrião é demarcado pelo cirurgião Francisco José de Matos, fabricante das pílulas vegetais depurativas — Pílula de Matos. Na década de 1940 destacavam-se também as Gotas Amargas de Artur de Carvalho e o sabão líquido Aseptol.


Em junho de 2018, o Ceará inaugurou o Polo Industrial e Tecnológico da Saúde (PITS) com instalação de unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no município do Eusébio. A instituição, referência internacional em pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico para a saúde, mantém três grupos de pesquisa na unidade Ceará: Saúde da Família, Saúde e Ambiente e Biotecnologia.


No mesmo ano, também foi instalado o Polo Industrial Químico, na cidade de Guaiúba. Os polos ligados à saúde são destaque no Estado. O Ceará é referência na produção de nutrição parental (soro), sendo responsável por um terço do que é vendido no País.


Tipografia

Com o surgimento das livrarias e o avanço intelectual proporcionado pelo Liceu do Ceará, a tipografia tem um crescimento de demanda. Em 1895, em Fortaleza, eram oito tipografias industrializadas.


A tipografia do jornal “O Cearense” pertencia ao senador Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto, que se tornou segundo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, em 1962.


Metalurgia

Em 1856, o Governo Imperial fornece impulso econômico para a indústria nacional. Até 1870 há então um crescimento na produção fabril. Destaque do período é a instalação da Fundição Cearense, a primeira metalurgia do Ceará, em agosto de 1868.


O governo Virgílio Távora já pretendia a instalação de uma siderúrgica em 1979, mas somente em 2016 um empreendimento do tipo começou a operar no Ceará. A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) instalada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE), do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, com capacidade produtiva de três milhões de toneladas de placas de aço por ano.


A cidade de Tabuleiro do Norte conta com o Polo Multissetorial Metalmecânico do Vale do Jaguaribe, inaugurado em 2018 pelo Governo do Estado.


Recursos Naturais

No início do século XXI, o perfil industrial do Ceará dá destaque à relação entre recursos naturais e tecnologia. Integrando a produção às atividades que se conectam de algum modo em suas explorações. Os recursos naturais, como localização geográfica, sol, vento e mar, se destacam como atributos competitivos da economia.


A usina eólica em Camocim, a extração de granito em Sobral, a usina solar em Tauá, são exemplos dessa integração, junto com o hub tecnológico, com 14 cabos submarinos de fibra óptica que interligam o Brasil com África, Europa, América do Norte, América Central e América do Sul. O Governo do Ceará estima que até o final de 2021 sejam 18 cabos.


CIC  - Entre o Associativismo e a Política

Criado em 1919, antes do surgimento da Fiec, o Centro Industrial do Ceará (CIC) foi palco de debates políticos e tem uma história ora de integração, ora de independência com a entidade.

A intenção era integrar uma nova geração ao movimento industrial do Ceará e gerar compromisso com as questões do setor. Foi movido nessa direção que o então presidente da Fiec, José Flávio Costa Lima, alterou o estatuto permitindo que a Presidência do CIC fosse diferente da Presidência da Federação. Nessas condições, entregou a responsabilidade do CIC, a partir de 1978, aos então jovens empresários Tasso Jereissati, Beni Veras, Amarílio Macedo, Sergio Machado e Assis Machado.

Tasso Jereissati
O senador Tasso Jereissati presidiu o CIC na fase de retomada da entidade, no começo dos anos 1980. (Foto: Aurélio Alves | O POVO)

O grupo, mais tarde batizado de Geração Mudancista (1979-1986), tem uma postura diferente de atuação e se aproxima das questões políticas, como a defesa da redemocratização e o desenvolvimento da economia.

Durante o período, o CIC manteve uma agenda de discussão em que projetava o Ceará no contexto regional e nacional. Os eventos realizados na entidade tinham convidados como Dom Helder Câmara, Leonel Brizola e Lula. Na pauta, a necessidade de rompimento com o modelo político vigente da época.

No discurso de posse da Presidência da entidade, em 1981, Tasso falava sobre a renovação: “O CIC tem um compromisso em nível estadual, regional e nacional com a formação, o mais rápido possível, de uma classe política competente e forte, capaz de influenciar e até assumir o poder.”

Ele ocupa a Presidência da entidade até 1983, quando é sucedido por Sergio Machado, sendo eleito para seu primeiro mandato de governador do Ceará em 1986. Depois veio a ocupar o cargo por duas vezes consecutivas, de 1995 a 2003.


O Início

Logo no surgimento, em 1919, os empresários do CIC, liderados por Tomás Pompeu de Souza, se organizaram para superar os efeitos acumulados da grande seca de 1915 e das enchentes de 1917, além das greves de trabalhadores.


Os integrantes ainda não tinham uma forte identidade como industriais, normalmente eram grandes comerciantes que, pelo instinto empreendedor, passaram a ter fábricas, em geral do setor têxtil. A instituição possuía um caráter segregador, já que o estatuto só permitia o ingresso de empresas com pelo menos 10 funcionários.


Com o surgimento da Federação das Associações do Comércio e Indústria do Ceará (Facic) em 1929, o CIC sofre um esvaziamento. Reunindo as duas categorias, e mais flexível, a nova entidade assumia o protagonismo das relações.


Um novo impulso industrial só surge com a Era Vargas (1930-1945); período que coincide com a Segunda Guerra (1939-1945), e as entidades ganham novo fôlego. A Fiec, fundada em 1950, passa a reunir sindicatos. Com a necessidade de apoio na defesa dos interesses das empresas, o CIC se torna uma entidade anexa à Federação, em 1959. E volta a se apartar dela com o início da segunda fase, marcada a partir de 1978.


Entrevista

Presidente Ricardo Cavalcante


Ricardo Cavalcante é 11º presidente da Fiec, Depois de ocupar o posto de diretor-administrativo na gestão anterior. (Foto: Thais Mesquita | O POVO)

José Ricardo Montenegro Cavalcante é empresário do ramo de extração mineral de areia e há 27 anos está presente em entidades representativas industriais. O 11º presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) vive o desafio de liderar o setor em meio a momento histórico e fala sobre a pandemia, inovação e ações para o futuro.


ANUÁRIO: A economia mundial tem mudado com uma velocidade muito grande por conta dos avanços da tecnologia, cada vez mais rápidos e com grandes ganhos de eficiência. Até onde vai o papel de uma entidade como a Fiec neste contexto?


Ricardo Cavalcante: Há exatos 70 anos a Fiec tem sido protagonista do processo de desenvolvimento socioeconômico não apenas do nosso Estado, mas de toda a região Nordeste e do próprio País. E nesse percurso temos trabalhado intensa e continuamente o aprimoramento dos processos produtivos das nossas indústrias e a capacitação e qualificação dos nossos quadros, tanto operacionais quanto de gestão, de modo a podermos manter os produtos que saem de nossas fábricas cada vez mais competitivos e em sintonia com as tendências de mercado e de consumo no Brasil e no mundo.


Não por acaso as nossas três casas são referência nacional em suas atividades. O nosso Senai tem buscado trazer para o aprendizado industrial no Ceará as mais modernas tecnologias disponíveis no mundo inteiro, abrindo caminho para que entremos na era da Indústria 4.0 com desenvoltura; o nosso Sesi tem evoluído a cada dia, transformando as mudanças sociais em oportunidades de novos serviços para a melhoria da qualidade de vida das populações que orbitam o universo das indústrias e seu entorno; e o nosso IEL tem disseminado conhecimento empresarial que vem modificando sobremaneira o mindset daqueles que lideram a estratégia e dão eficiência à gestão das indústrias cearenses. Portanto, o trabalho da Fiec nesse contexto de mudanças tem se pautado pela construção de conhecimento técnico-acadêmico assentado em práticas operacionais contemporâneas.


ANUÁRIO: A Indústria 4.0 requer capital humano mais capacitado, mais infraestrutura, mais condições para estabelecer competitividade, mesmo dentro do Brasil. Qual o percurso do Ceará para chegar a este estágio?


RICARDO: O Ceará tem evoluído significativamente no que tange à facilitação ao acesso às novas tecnologias para os diferentes setores produtivos em atividade no Estado. Hoje temos uma infraestrutura aeroportuária que nos aproxima e nos coloca em sintonia com o que há de mais atual em termos de logística de cargas no mundo. A conectividade da nossa malha aérea integrada à infraestrutura no nosso novo aeroporto, e à capacidade operacional do nosso porto maior, faz do Ceará um dos mais competitivos estados de todo o Nordeste e nos insere definitivamente no cenário de competitividade internacional.


Os investimentos públicos e privados feitos até aqui, a exemplo do parque industrial presente no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, da infraestrutura de comunicação via cabos submarinos de fibra ótica que nos conecta à velocidade da luz aos quatro cantos do mundo, nos anima a acreditar que estamos no caminho certo. Claro que ainda há muito o que fazer, especialmente no que tange à agilização dos processos burocráticos que seguem comprometendo a eficiência das nossas operações comerciais com o Brasil e com o mundo; o baixo investimento público em infraestrutura de tráfego rodoviário e ferroviário, que segue dificultando a logística de transporte interno dos nossos produtos; a excessiva carga tributária, que compromete o planejamento econômico-financeiro dos nossos negócios. Mas esses são gargalos que carecem de ingerência política para serem resolvidos.


ANUÁRIO: Setores tradicionais da indústria já miravam a necessidade de transformação, e o cenário reforça a necessidade de acelerar as tomadas dessas decisões. O Ceará traçou as chamadas Rotas Estratégicas Setoriais. Depois de definidas, como segui-las?


RICARDO: Quando implantamos o Programa para Desenvolvimento da Indústria (PDI), tínhamos o propósito de construir caminhos que nos garantem um crescimento continuado das nossas indústrias, assentando a nossa trajetória nas reais potencialidades de cada território onde tivéssemos parques industriais instalados, de modo a termos um melhor aproveitamento das nossas competências. E para tanto iniciamos um debate articulado entre setor privado, poder público, academia e entidades de apoio, incentivando o fortalecimento da inovação e sustentabilidade no ambiente industrial cearense.


O “Rotas Estratégicas” é um dos vetores do PDI. Com ele nós iniciamos a caminhada de construção do futuro da indústria cearense, visando um horizonte temporal de 2025. Após a realização de 14 painéis com 670 especialistas e empresários, foram definidas 39 visões para subsetores industriais locais, mapeadas 5.245 ações estratégicas e identificadas 221 tecnologias-chave. Também foram realizados 13 estudos socioeconômicos que levantaram 8.263 informações de ordem econômica, ambiental e de ativos em pesquisa e desenvolvimento. Hoje temos 14 rotas concluídas para os setores estratégicos de: águas, biotecnologia, construção e minerais não metálicos, economia do mar, eletrometalmecânico, energia, indústria agroalimentar, logística, meio ambiente, produtos de consumo, saúde, tecnologias da informação e conhecimento, turismo e economia criativa, e segurança pública. Cada uma traz informações precisas sobre a socioeconomia, tendências, rotas e o roadmap com a identificação de entraves, tecnologias-chave e ações estratégicas de curto, médio e longo prazo para o aumento da competitividade desses setores.


ANUÁRIO: Os incentivos fiscais são instrumentos utilizados para estimular a interiorização da atividade industrial. Em que medida o senhor avalia esse modelo como ainda adequado?


RICARDO: Quando o governo propõe uma política de incentivos fiscais baseada no estímulo à interiorização dos investimentos industriais, ele busca reduzir as desigualdades regionais promovendo um desenvolvimento que seja territorialmente mais equilibrado e, por consequência, socialmente mais justo. A ideia lançada há cerca de dois anos, de usar o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) para balizar a ponderação dos incentivos nos parece bastante interessante, por considerar aspectos tanto demográficos, quanto fundiários, econômicos e sociais.


Mas, paralelamente a isto, acreditamos ser necessário um programa de repactuação das dívidas do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor), trazendo novamente para o mercado de crédito as empresas que voltarão a gerar incrementos no emprego e na renda. É importante entender que os incentivos existem para equilibrar a competitividade de territórios com algum gap de infraestrutura, capital humano e acesso aos mercados, de modo a torná-los atrativos a investimentos que possam verdadeiramente contribuir para um desenvolvimento regional mais equilibrado.


ANUÁRIO: O peso econômico e institucional da indústria, historicamente, põe a Fiec como agente em momentos decisivos da história. Como tem sido a atuação da entidade nesse cenário de crise que estamos vivendo?


RICARDO: Desde a sua origem, fato acontecido em 12 de maio de 1950, quando recebeu a Carta Sindical que a reconhecia como Federação das Indústrias do Estado do Ceará, a Fiec tem pautado a sua atuação no cumprimento da missão de “fortalecer a indústria e incentivar o desenvolvimento socioeconômico do Ceará”. E não há como fortalecer a indústria sem a promoção do desenvolvimento socioeconômico do Estado, um não acontece sem o outro. Aliás, um carece do outro. Daí vimos mantendo um diálogo constante entre empresas, Governo e academia, sempre de forma integrada, colaborativa e produtiva, ouvindo e valorizando as ideias de todos. Entendemos ser este comportamento essencial que possamos produzir e distribuir riqueza, promover emprego e renda, e gerar impostos, tudo em sintonia com as transformações sociais e tecnológicas em curso, em um círculo virtuoso de inovação e prosperidade.


ANUÁRIO: O senhor tinha um plano de voo para o seu mandato em função da perspectiva nacional de recuperação econômica e até um possível crescimento até o final dele. O cenário mudou de maneira drástica. Assim, o que mudou no planejamento da sua gestão?


RICARDO: Há uma frase do grande pensador em gestão estratégica do século XX, o mestre Peter Drucker, que afirma: Planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas a implicações futuras de decisões presentes. Quando traçamos um plano, o fazemos com uma visão de futuro que acreditamos viável, factível. Porém, no percurso a realidade trata de nos provocar a mudar de rota. E quando temos um propósito que norteou a nossa estratégia, essa mudança acontece naturalmente. É fato que a chegada da pandemia da Covid-19 impactou de forma marcante boa parte dos nossos planos. Por outro lado, revelou para todos que fazemos a Fiec, e aqui incluo exatamente todos — lideranças sindicais, gestores das casas da indústria, colaboradores dos múltiplos setores e diretores-executivos — que éramos capazes de fazer muito mais do que vínhamos fazendo.


Daí termos nos solidarizado com o poder público e nos envolvido diretamente na missão de combater os impactos do coronavírus de uma forma efetiva, produzindo insumos os mais diversos para o enfrentamento, tudo feito de modo solidário e colaborativo, juntando inteligências e competências tanto do sistema indústria (com Senai, Sesi e IEL trabalhando juntos), quanto do Governo, das universidades e especialmente das indústrias a nós vinculadas. Hoje sabemos o quanto vale a máxima: a união faz a força. E a Fiec segue unida contra o coronavírus. Quanto ao futuro da minha gestão, não tenho dúvidas de que o aprendizado e a resiliência que construímos nesses dias, haverão de nos permitir uma retomada dos trabalhos a uma velocidade ainda maior, de modo a podermos cumprir com todas as metas que traçamos em setembro de 2019, quando da nossa posse.


ANUÁRIO: Em artigo no O POVO, logo após a eclosão da crise causada pela Covid-19, o senhor citou a necessidade de uma espécie de Plano Marshall para o Brasil na recuperação pós-pandemia. O senhor acredita na capacidade de reconstrução do País?


RICARDO: Quando lancei aquele manifesto, procurei expressar um sentimento no qual verdadeiramente acredito, que é o da solidariedade, da colaboração. E a reconstrução socioeconômica do Brasil carece disso. No artigo eu afirmava não haver mais espaço para ações isoladas, que os governos em suas instâncias federal, estaduais e municipais, assim como as casas legislativas e o Judiciário; as organizações empresariais e os trabalhadores; as instituições acadêmicas, a imprensa e entidades sociais, enfim, todos nós, deveríamos unir esforços em torno de uma mesma questão: a reconstrução socioeconômica da nação.


E partindo da premissa de que não há dignidade sem trabalho, e não há trabalho sem pujança econômica, considero imprescindível o investimento na qualificação das pessoas, na atualização dos parques operacionais, na reestruturação das cadeias produtivas, na otimização do uso dos recursos disponíveis, na ampliação da eficiência dos negócios, na agregação de valor às marcas, na adoção de estratégias de inovação e no alargamento dos horizontes de mercado. E tudo isto não se faz sozinho. O País carece de união, e união é o cerne do nosso modo de trabalhar na Fiec.


ANUÁRIO: Como seria um Plano Marshall à brasileira?


RICARDO: O termo “Plano Marshall” surge nesse contexto caótico, não apenas como um estímulo financeiro de um único governo, mas como uma metáfora para a necessidade de um estímulo coletivo para a retomada da economia brasileira. No Brasil, além do capital financeiro, essencial é claro, precisamos fortalecer o capital humano para que tenhamos a nossa inteligência e criatividade a serviço do Estado, aqui dito em sentido lato. E nessa metáfora que propomos, a cooperação aparece como o amálgama capaz de unir instituições de fomento, governos, universidades, empresas e sociedade organizada, atuando de forma integrada com os organismos multilaterais internacionais, com fins de carrear investimentos públicos e privados em infraestrutura, logística, saneamento básico, moradia, educação, saúde e tudo o mais que leve a um processo sustentável de desenvolvimento.


Esse seria o nosso “Plano Marshall”, um projeto coletivo de retomada econômica, para nos desvencilhar das amarras que tanto sufocam a classe empreendedora e travam a inovação em todos os setores da nossa sociedade. Somente com a união conseguiremos mudar essa realidade nacional que teima em colocar nos ombros das nossas empresas uma carga insuportável de tributos, que nos submetem a leis obsoletas e a excessos de regulação por parte do Estado, fatores que só desencorajam os investimentos privados, aumentam a insegurança jurídica e prejudicam a produtividade da economia brasileira.


ANUÁRIO: As consequências da pandemia têm sido comparadas às de uma guerra, mas os períodos de guerra também são reconhecidos pelos avanços, já que dão urgência às soluções, às descobertas tecnológicas, à inovação. Em que medida a indústria está aprendendo?


RICARDO: A experiência com o caos trazido pela Covid-19 tem nos mostrado que somos capazes de muito mais do que antes acreditávamos ter competência para fazer. No afã de cumprirmos com a nossa missão de fortalecer a indústria e incentivar o desenvolvimento socioeconômico do Ceará, de pronto, nos envolvemos na construção coletiva de soluções que pudessem minorar os impactos da pandemia. E para tanto, colocamos a nossa inteligência, infraestrutura, capacidade de inovação e capilaridade operacional em campo, trabalhando diuturnamente no desenvolvimento de insumos para os serviços de saúde, com a produção de máscaras, aventais, álcool em gel e a recuperação de respiradores artificiais, instrumentos essenciais à preservação da vida das pessoas infectadas.


Também conseguimos sensibilizar a classe empresarial para a causa, com a promoção de campanhas de arrecadação de recursos e aquisição de equipamentos e produtos voltados para a redução dos impactos da pandemia. Tudo isso só reforça o sentimento óbvio de que juntos somos capazes de ir muito mais longe, de inovarmos de diferentes formas, de gerarmos riquezas além das econômicas, de transcendermos os nossos muros e unirmos às mais diferentes forças, quando temos uma causa comum. Passado esse momento, certamente iremos explorar essas novas competências para acelerarmos a retomada das nossas atividades, ampliarmos a nossa produtividade e nos tornarmos ainda mais competitivos no mercado local, nacional e internacional.


ANUÁRIO: Como é liderar um segmento tão complexo e em plena transição tecnológica, e até conceitual, nesse cenário de incertezas por conta da pandemia?


RICARDO: Parafraseando o pensador israelense Yuval Harari, neste momento de crise, a batalha decisiva trava-se dentro da própria humanidade. Se esta pandemia resultar em maior desunião e maior desconfiança, o vírus terá aí sua grande vitória. Por outro lado, se resultar numa cooperação global mais estreita, triunfaremos não apenas contra o coronavírus, mas contra todos os patógenos futuros. Desde o primeiro momento em que assumi a presidência da Fiec, trouxe comigo o lema da união. Fiec Unida foi o nome da chapa com que fui eleito presidente.


E hoje percebo claramente o quanto foi importante a disseminação deste sentimento entre todos aqueles com os quais interagi ao longo dos últimos meses. A cada momento me vem à memória o que disse no dia da minha posse: Nós iremos trabalhar para todos, para a Indústria, que se alimenta e alimenta de insumos os demais negócios; para o Estado, que fomenta o empreendedorismo, e recolhe os tributos gerados para retornar às pessoas na forma de serviços capazes de dignificar as suas vidas, e para a própria sociedade, razão maior da nossa existência, e quem de fato move a economia. E fiel a esse compromisso, seguirei trabalhando para cumprir com a missão que foi delegada.


ANUÁRIO: A Fiec se coloca à frente do desafio de liderar a agenda de reforma conceitual do setor. Como conduzir esta agenda em um momento da história em que as empresas pensam em sobreviver?


RICARDO: Acredito que as respostas anteriores já traduzem o que esta pergunta pede. Quando conseguimos manter os nossos 39 sindicatos unidos em defesa dos interesses maiores não só das nossas indústrias, mas de toda a sociedade, respeitando a lei e a ordem, trabalhando coletivamente pela preservação da vida, entregando suas inteligências em prol de soluções efetivas para os males que acometem as pessoas e as empresas, estamos promovendo desenvolvimento socioeconômico. O mesmo fazemos quando nos unimos ao Estado e às demais instituições representativas dos outros setores produtivos como comércio, serviços, agronegócios e transporte na construção de estratégias que nos permitam manter viva a chama empreendedora de nosso povo.


Também o fazemos quando empregamos todas as tecnologias do Senai na qualificação dos quadros operacionais de nossas fábricas e na consequente melhoria da produtividade de nossos parques industriais; quando disponibilizamos toda a infraestrutura do Sesi para fortalecer o espírito de cidadania e promover a saúde física e mental entre os operários e seus familiares das nossas empresas; quando estruturamos o IEL para conduzir o processo de mudança de mentalidade, fortalecendo o espírito empreendedor de nossos gestores, aumentando as competências e gerando mais eficiência e inovação para as nossas empresas. Enfim, promover o desenvolvimento socioeconômico está no cerne de tudo o que fazemos na Fiec.


ANUÁRIO: O senhor participou de outras gestões da Fiec, em outros cargos. Que lições ajudam hoje no seu modo de liderar?


RICARDO: Estou na Fiec há cerca de 28 anos. E nesse tempo todo, eu pude perceber que os momentos em que a indústria cearense mais se fortaleceu foram aqueles em que soube manter a sua altivez, contribuindo de forma solidária com o Estado em todas as suas instâncias, mas preservando a sua independência e se mantendo autônoma; reunindo as mais diferentes forças criativas e produtivas em torno de um propósito comum, o desenvolvimento socioeconômico do Ceará; comprometendo o conjunto dos industriais, gestores e colaboradores das nossas fábricas com a construção de uma indústria sintonizada com as transformações tecnológicas, culturais e econômicas em curso nos quatro cantos do mundo; assumindo para si o papel de protagonista do movimento pela inovação e geração de riquezas. E assim eu fui formatando o escopo de conhecimentos, experiências, relações que hoje compõem o background do meu modelo de liderança. Sou e seguirei sendo um aprendiz.


ANUÁRIO: Qual o legado que o senhor pretende deixar ao final da sua gestão?


RICARDO: Volto mais uma vez ao meu discurso de posse, quando afirmei que não faltaria motivação à minha gestão, pois tínhamos os governos como parceiros, as classes produtivas como aliados, a inteligência cearense como instrumento, e o aprimoramento da sociedade como a razão maior de ser e de fazer do nosso trabalho. E ali eu me comprometi a não me aquietar enquanto não conseguisse unir Estado, Empresas e Sociedade, com respeito, altivez e independência, para afirmarmos o Ceará, como referência de solidez, inovação e dinamismo econômico, detentor de um ambiente plenamente favorável aos negócios. Esse verdadeiro pacto pelo Ceará, tendo a indústria como protagonista, acredito, já seria um legado a deixar ao fim do meu mandato.


ANUÁRIO: O trabalho de uma entidade mira em avanços e ganhos para a classe a cada gestão. Como dar continuidade ao plano de desenvolvimento industrial do Ceará?


RICARDO: Há respostas anteriores que já contemplam a primeira parte desta pergunta, especialmente a que discorre sobre o que vimos fazendo no âmbito do PDI, com as rotas estratégicas e todas as demais ações acessórias. Quanto à segunda parte, é importante destacar que recebemos a Fiec com uma cara nova, organizada, muito bem estruturada física e tecnologicamente e bastante acreditada junto às instituições públicas, privadas e à sociedade como um todo.


O ex-presidente Beto Studart foi um hábil maestro dessa orquestra. Mas quero ressaltar aqui um dos seus principais legados, e que em muito tem contribuído para que possamos caminhar a passos largos rumo ao futuro, que é o Observatório da Indústria. Com ele nós estamos conseguindo gerar informação e produzir conhecimentos abalizados, capazes de nortear decisões mais assertivas e contribuir para a geração de políticas públicas ainda mais coerentes e consequentes, além de ajudarmos as nossas indústrias a serem ainda mais competitivas em âmbito global. Nós estamos avançando em muito na potencialização de soluções geradas a partir do uso da inteligência artificial presente no Observatório da Indústria.


ANUÁRIO: O Sistema S sofre recorrentes ataques, com a ameça de corte de parte de seus recursos, a base das receitas de entidades como a Fiec. Que defesa o senhor faz do Sistema?


RICARDO: O Sistema S tem uma importância histórica para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro, tendo sido responsável pela formação técnica e melhoria da qualidade de vida e empregabilidade de milhões de trabalhadores, contribuindo assim para a melhoria da eficiência e eficácia das empresas nacionais, qualificando os negócios da indústria, comércio, serviços, agronegócios, cooperativas e transportes em todo o País. Criado ainda em meados da década de 1940, hoje é integrado por 9 entidades: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac); Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop); Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e Serviço Social de Transporte (Sest).


No Ceará, desde o momento em que assumi a presidência da Fiec, temos trabalhado conjuntamente, unindo as nossas competências e explorando as capilaridades das nossas estruturas, de modo a otimizar o uso dos nossos recursos, para atendermos de forma mais efetiva às inúmeras demandas das empresas, dos trabalhadores e de suas famílias. Também estamos juntos em todos os fóruns estratégicos, unindo forças aos governos estadual e municipais, às instituições acadêmicas e sociais, de modo a contribuirmos coletivamente para o desenvolvimento do Ceará.


70 anos Fiec

A interiorização da indústria no Ceará e a internacionalização dos negócios seguem entre os desafios da entidade no novo ciclo


O ano é 1950, Brasil elege Getúlio Vargas presidente e sedia a Copa do Mundo de Futebol. Enquanto isso, era criada no Estado a Federação das Indústrias do Estado do Ceará.


A entidade nasce com o apoio dos sindicatos da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará; da Construção Civil de Fortaleza; da Indústria de Calçados de Fortaleza; da Indústria de Tipografia de Fortaleza; e de Alfaiataria e Confecção de Roupas para Homens de Fortaleza.


Teve sua sede inicialmente instalada no 3º andar do Edifício Jangada, à rua Major Facundo, nº 253, no Centro da Capital. Em setembro de 1989, foi inaugurada a sede na Av. Barão de Studart. Funciona no atual prédio, batizado de Casa da Indústria, a administração das entidades: Fiec, Sesi, Senai e IEL, bem como 39 sindicatos filiados à Federação.


  • 1950

    • 12 de maio, foi criada a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Waldyr Diogo foi escolhido como primeiro presidente

  • 1953

    • Anuário Estatístico do Brasil registrava 26 fábricas de óleo no Ceará
    • Início da transferência de energia da Hidrelétrica de Paulo Afonso (BA) para o Ceará

  • 1955

    • Criado o núcleo do Sistema Social da Indústria (Sesi) no bairro Parangaba, em Fortaleza

  • 1956

    • Em setembro, o Grupo J.Macêdo inicia as atividades industriais do Moinho Fortaleza no Porto do Mucuripe

  • 1958

    • Implantada no Cariri a fábrica de cajuína São Geraldo e o engarrafamento do refrigerante internacional Crush

  • 1959

    • Instalação do Grande Moinho Cearense, em Fortaleza
    • Inauguração da Cia Cearense de Cimento Portland, em Sobral

  • 1961

    • Inaugurada a Ipecea, pioneira na indústria de frios e pescas, em Fortaleza
    • A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) cria o Programa de Reequipamento da Indústria Têxtil. Ceará tem oito empresas contempladas

  • 1962

    • Fundada a Companhia Industrial de Óleos do Nordeste (Cione) com 95% da produção de castanha de caju exportada para o mercado internacional

  • 1963

    • Inaugurada a Esmaltec S/A do Grupo Edson Queiroz, em Fortaleza

  • 1964

    • O governador Virgílio Távora instituiu o Plano de Metas (Plameg I) para incentivar a industrialização pela distribuição de energia elétrica da Usina de Paulo Afonso

  • 1965

    • Criada a Companhia Docas do Estado do Ceará com o objetivo de alavancar as importações e exportações por meio do Porto do Mucuripe em Fortaleza

  • 1966

    • Inauguração do Distrito Industrial de Maracanaú

  • 1968

    • O presidente da Fiec, Thomás Pompeu de Souza Brasil, é eleito presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficando no cargo até 1977

  • 1971

    • Criado o Instituto Euvaldo Lodi (IEL)

  • 1973

    • Grupo Vicunha chega ao Ceará associado às famílias Otoch e Baquit
    • Inauguração do Sesi no Crato

  • 1974

    • Criação da Medalha do Mérito Industrial

  • 1979

    • Governo do Estado do Ceará cria o Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) para incentivar a vinda de indústrias para o Estado com o financiamento parcial do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

  • 1980

    • O Sesi e o Grupo J.Macêdo criam o Centro de Treinamento do Senai para moagem e panificação, o primeiro centro formador de mão de obra especializada para indústria moageira da América Latina
    • Fundadas as fábricas de fiação Santana Têxtil e Têxtil Bezerra de Menezes

  • 1981

    • Inaugurada a primeira siderúrgica no Ceará, a Gerdau – Siderúrgica Cearense

  • 1989

    • Em setembro é inagurado o prédio da chamada Casa da Indústria, na Av. Barão de Studart, 1980
    • Criada a comissão de Comércio Exterior ligada à Fiec para fomentar a exportação de produtos cearenses

  • 1993

    • Capitaneado pela Fiec, instituiu-se o Pólo Graniteiro do Ceará pelo então governador Ciro Gomes

  • 1995

    • Criada a Troller, fábrica de veículos em Horizonte. Em 2007, foi incorporada à Ford do Brasil

  • 1998

    • Instalada no Ceará a indústria de calçados Dakota e a de confecções Marisol
    • Fiec cria o Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN Ceará) com o objetivo de fomentar as exportações

  • 2000

    • Inaugurado o Posto do BNDES na Fiec
    • Inauguração do Centro de Tecnologia do Gás Natural, unidade do Senai no Distrito Industrial em Maracanaú

  • 2010

    • A indústria de confecção do Ceará consolida o Estado como importante produtor com a marca de 45 milhões de peças produzidas por ano

  • 2014

    • Inaugurado o Museu da Indústria

  • 2016

    • Distrito Industrial de Maracanaú celebra 50 anos

  • 2018

    • Fiec inaugura o Observatório da Indústria


Qual história será contada?

O equipamento guardião da memória da indústria cearense terá de encarar o revés de contar a história de uma pandemia e o impacto na vida das pessoas e no segmento.


Os museus cumprem o papel de contar a história. Com o distanciamento temporal necessário para organização das ideias e dos fatos, o trabalho de arqueologia das informações elege um prisma por onde olhar e expor o que já passou.


No Ceará, o Museu da Indústria nasceu há bem pouco tempo. Em 2014, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará o inaugurou. Localizado no Centro de Fortaleza, ocupa um edifício da época do Império, datado de 1871, mas que não abrigou nenhuma indústria. Foi sede do primeiro clube social da cidade (Sociedade União Cearense) e, quando abrigou o Grande Hotel do Norte, teve a primeira sorveteria da Cidade.


De 1895 a 1935, foi ocupado pelos Correios, até ser adquirido pela The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltda, companhia inglesa que explorava o serviço de energia e bondes elétricos de Fortaleza. Após 20 anos desocupado, o prédio foi adquirido pelo Sesi-CE, e as obras de restauração duraram nove anos.


A proposta do equipamento é manter iniciativas no relacionamento com a sociedade, com disponibilidade do Centro de Pesquisa com mais de 800 títulos que não tratam somente da indústria local.


As exposições seguem a proposta de longa duração e não são exclusivamente sobre a indústria. O acervo temático conta com exposições tanto em peças físicas, como em acervos virtuais.


Em 2020, o mundo passa por um momento histórico que atravessa a indústria fortemente em termos de consequências e adaptações. Como o Museu vai contar isso? O que será exposto quando a galeria abrigar os impactos da pandemia da Covid-19 na indústria cearense? Resta aos pesquisadores o olhar apurado e o registro atento dos acontecimentos para depois contar mais essa memória.


Serviço

Museu da Indústria 

Endereço: Rua Doutor João Moreira, 143 – Centro – CEP 60030-000 – Fortaleza – CE

Telefone: (85) 3201 3901

Site:  www.museudaindustria-ce.org.br


Visitas

De terça-feira a sábado: das 9 horas às 17 horas

(com acesso até às 16h30)

Domingo: das 9 horas às 13 horas

(com acesso até às 12h30)


Galeria dos Presidentes

A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), fundada pelo engenheiro civil Waldyr Diogo de Siqueira, chega aos 70 anos com uma galeria de 11 presidentes, após ter ocupado duas sedes, o Edifício Jangada, no Centro da Capital, e a atual, a Casa da Indústria, na avenida Barão de Studart, em Fortaleza. O segundo presidente, Thomás Pompeu de Souza Brasil Netto, foi o único a também estar à frente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).