Uma mudança de época impulsionada pela transformação digital, a transição energética e a economia azul no mundo e nas terras alencarinas

Publicado 16:09 | 26 de jul de 2023

Em 2014, Klaus Schwab, fundador e executive Chairman do Fórum Econômico Mundial sediado em Davos, na Suíça, retratava a Indústria 4.0 como a 4ª Revolução Industrial.


Essa nova visão fortalecia o avanço da tecnologia em muitas áreas como a Internet das Coisas, a Robótica, a inteligência Artificial, Big Datas, Data Analitycs, 4G/5G e apresentava novos conceitos acerca dos modos de produção e de emprego.


A competitividade conversava em uma linguagem mais coloquial com a produtividade, imprimindo eficácia, eficiência e maior efetividade aos processos da nova indústria. Os maiores desafios traziam novas características para uma sociedade do conhecimento, que exigiria capital humano com um novo mindset, aculturado tecnologicamente em uma supervelocidade nunca antes vista.


Os processos necessitavam ser redesenhados para atender à tecnologia emergente; às pessoas, convertidas para uma realidade como das animações infantis ilustradas nos Jetsons de Hanna-Barbera.


Os questionamentos sobre antropocentrismo nas mudanças climáticas ganhavam forma nas soluções da Revolução Industrial preconizando um mundo em transição. Uma nova corrida para o Espaço ganharia espaço e mais tecnologia, com novos protagonistas na riqueza mundial. A transformação digital abria portais para a transição energética com alta tecnologia.


Quando, em 2015, quase 20 anos após a assinatura do protocolo do Kyoto, ocorre um marco importante na Conferência do Clima: o Acordo de Paris. A matriz energética fóssil passa a ter uma contagem regressiva, com datas e metas marcadas para 2030, 2040 e 2050 pela maioria dos países da OCDE e fortalecido pelas nações europeias.


Nada que também não tenha sido narrado nas ficções, há mais de 150 anos, por Julio Verne, traduzindo a água como substituto do carvão, no texto da ilha misteriosa de 1873.


O CEO da Siemens Energy, Christian Bruch, no Fórum Econômico de Davos de 2022, ratificou, exemplificando Julio Verne, a visão de futuro rumo ao Hidrogênio Verde-H2V, o Combustível do Futuro.


No entanto, a viabilidade da transição energética passa pelo arco-íris do hidrogênio, cabendo encontrar as estruturas de mais baixo carbono em primeiro lugar, viáveis no primeiro instante, para a redução dos gases do efeito estufa.


O Hidrogênio Azul, com a captura do CO2 do gás fóssil, representa uma alternativa nesse processo para chegarmos no H2V. Outros caminhos trabalham formas renováveis para a transição na melhor utilização dos esgotos, utilizando a biomassa, e dos resíduos sólidos, lixos, que conseguem produzir o biometano.


Os gases traduzem esse processo e a ciência e tecnologia a forma de obtenção com baixo carbono (low carbon).


E a economia azul, onde se encaixa nessa linha de tempo? Em 2017, foi instituída pela ONU a década dos Oceanos 2021-2030. O Planeta Água, que captura ¼ do dióxido de carbono do mundo, que mal tratado tem apresentado excesso de lixo e expondo o ecossistema a um maior risco.


O Bioma Marinho produz algas que são os verdadeiros pilares da captura do carbono. Se desequilibrarmos esse bioma, o Planeta Terra sofre uma ameaça acelerada no recrudescimento da temperatura global, reduzindo as chances de sobrevivência da humanidade.


Julio Verne também escreveu as “Vinte mil léguas Submarinas” com seu destemido capitão Nemo. Nela é narrada a luta para a defesa do referido ecossistema na interpretação livre que se possa dar ao escritor francês, na descrição da beleza da fauna e geografia dos oceanos.


A Transformação Digital materializou a transição energética pela alteração dos modos de produção e maior eficiência da gestão e, principalmente, das energias renováveis pelo fibramento óptico e avanço das tecnologias.


Em seguida, a escala global somente pode ocorrer pelo cabeamento transoceânico na comunicação de dados e pela logística marítima no transporte das energias liquefeitas ou sólidas e insumos para a montagem das plataformas de geração de energias on shore, sejam fotovoltaicas (a exemplo das placas solares produzidas na China), sejam eólicas (a exemplo de geradores alemães e pás brasileiras), como também os novos sites (ambientes) de energia off shore, construídos em distâncias de até 108 milhas marítimas da costa.


Trata-se de um novo mundo, com visões e horizontes largos na perfeita combinação da transformação digital, da Transição Energética e da Economia Azul.


Passamos do tempo do ENIAC de 1946, considerado o primeiro computador de grande porte, das lamparinas acesas com óleo de baleia até o final do século XIX, anteriores às lâmpadas elétricas, do Mar das Redescobertas Continentais e das rotas das companhias das Índias Ocidentais, entre os séculos XV e XVII.


Transformações e transições em muitos séculos proporcionadas pelo avanço da ciência e tecnologia e muitas inovações.


Na nossa realidade e mudança de época do século XXI, chegamos ao Green Deal, no chamado Pacto Ecológico Europeu, em 2019.


A busca por novos caminhos para o Desenvolvimento Sustentável, definidos por compromissos internacionais como o Race-to-Zero, reforçou para os mercados conceitos de ação integrada das questões ambientais, sociais e de governança.


O novo brand para a obtenção dos capitais internacionais, ESG (ennviromental, social and governance), reforçou a responsabilidade corporativa cobrada pelos investidores. A ética global elevou o tom com o aquecimento global, ratificada no Fórum Econômico Mundial em 2020, na necessidade do Great Reset.


A pandemia teria encontrado um efeito de acelerar o futuro com maior consciência socioambiental e melhoria da Governança do Mercado e dos Estados.


O Brasil tem tido um “tratado” de difícil compreensão com a comunidade internacional, com compromissos aparentemente claros para o net-zero, ao tempo em que as políticas ambientais, pelo que se pode inferir a partir das informações divulgadas, não conseguem conter o desenvolvimento de térmicas a carvão e o desmatamento da Amazônia, que apresenta fortes indícios de crescimento das emissões de gases do efeito estufa, estando na contramão das narrativas oficiais.


Teses ou teorias da conspiração? Querem tomar a Amazônia quando os países desenvolvidos historicamente não tiveram a mesma preocupação. Qual seria o pragmatismo de ações agora diante das alterações do clima?


No estado do Ceará optou-se pelo foco no hub do Hidrogênio Verde. Vantagens competitivas globais endereçaram memorandos de entendimentos para investimentos internacionais, em sua maioria, de todas as partes do mundo para as terras alencarinas.


Um projeto que inclui as energias renováveis, eólica e fotovoltaica, para um processo de eletrólise da água e a consequente produção de Hidrogênio Verde.


O site do hub, no complexo industrial do Porto do Pecém, é fortalecido pela sociedade com o Porto de Roterdã e uma área alfandegária importante para a instalação da cadeia produtiva do entorno.


A hidrologia do Ceará sempre foi escassa em seus recursos, mas um planejamento e execução bem construídos ao longo dos últimos trinta anos têm apresentado capacidade de resiliência e adaptação aos muitos períodos de secas vividos e que castigam o interior do Estado e sua população.


Os investimentos na matriz hídrica pelos Governos Federal e Estadual têm alterado esse quadro, com a transposição do Rio São Francisco, a planta piloto de dessalinização, a proposta de parcerias público-privada para água de reuso e outros avanços que garantem a segurança hídrica para a implantação do hub do Hidrogênio Verde no Pecém.


Esforços têm sido envidados pela Academia, Entidades Produtivas e Governo, na tríplice hélice, no sentido de encontrar soluções viáveis dentro de aprofundamentos na Ciência, Tecnologia e Inovação, com a participação das Universidades Federal, Estaduais, Universidade de Fortaleza e outras instituições de ensino e pesquisa da região, além da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) e em conjunto com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em parceria com o Instituto Fraunhofer.


São muitas instituições focadas em um propósito que possui características transformadoras para as questões socioeconômicas do Estado e ambientais para o globo.


A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), por exemplo, selecionou oito projetos de doutores e pós-doutores dentre 23, para o desenvolvimento de processos e novas tecnologias visando a cadeia do Hidrogênio Verde.


O leque é amplo, com conhecimentos sobre a armazenagem líquida e gasosa do Hidrogênio, contando com membranas para eletrolisadores, com algas marinhas e diversos projetos que conferirão competitividade ao hub de H2V.


A logística marítima para exportação do Hidrogênio também tem sido objeto dessa análise e avaliação, prevendo píer, equipamentos específicos para essa jornada, considerando as necessidades de integração com os investimentos em energia off shore.


A economia Azul tem seu papel nesse caminho ordenando recursos e prioridades, respeitando a conservação dos oceanos e emergindo o desenvolvimento sustentável.


Da mesma forma, a transformação digital em um Ceará + Digital inserido no programa de modernização do BID, no Ceará Conectado, através do Cinturão Digital, facilitam a comunicação de dados das florestas de energia solar e eólica, combinando a Economia Azul e a Transformação Digital, o papel dos Data Centers e a tecnologia dos cabos transoceânicos para a comunicação de dados dos sites de energia off shore.


Assim, caminhamos em uma visão sistêmica interconectada e interdependente para alcançarmos a Transição Energética Justa. O Ceará teve um grande trunfo nesse pensamento de médio e longo prazo: a busca pela institucionalização de um Planejamento Estratégico Estadual de Longo Prazo.


Os diálogos nos últimos anos foram intensos envolvendo os atores desse enredo sustentável, o governo recebeu a sociedade civil e suas considerações para buscar caminhos em um verdadeiro pragmatismo.


Definiu programas prioritários que forneceram a base para essas ambições e focos em cadeias produtivas como a das Energias Renováveis que pudessem criar realmente valor para a sociedade.


Por exemplo, é no programa Renda do Sol uma das grandes apostas do modelo, trazendo a microgeração distribuída para os mais vulneráveis como forma de inclusão sócioprodutiva e redenção em um futuro próximo de tantos hiatos existentes.


É o resumo da ópera, que revela múltiplas dimensões para encontrar soluções depende da cultura, da ciência e da educação para viabilizar essa mudança de época refletida pela Transformação Digital, a Transição Energética e a Economia Azul no estado do Ceará, dentro do mainstream global das mudanças climáticas.



Célio Fernando

Célio Fernando B Melo, economista, pós graduado em Administração Financeira e em Administração de Empresas, mestre em Negócios Internacionais, doutorando em Relações Internacionais. Atualmente, council member Carbon Disclosure Project LaTam, vice-presidente da Apimec Brasil, sócio (afastado) da BFA Investimentos. Secretário-executivo de Regionalização e Modernização da Casa Civil do Estado.