O esperançar de uma nova era no Ceará e a construção de novas fortalezas

Publicado 17:38 | 21 de jun de 2024

Ceará tem se destacado nos últimos anos por sua busca incessante por um desenvolvimento sustentável e inovador. Institucionalmente, o Estado avançou em leis e decretos que estabelecem um caminho para o futuro, como a adesão ao Net-Zero, a corrida para neutralidade do Wcarbono.


As Nações Unidas têm trabalhado na coalização para o carbono zero. O objetivo é que, com as mudanças climáticas e a temperatura global aumentando, cada vez mais haja a consciência de evitar as emissões de dióxido de carbono ou compensá-las com ações que as neutralizem.


Outra ação importante, seguindo a sustentabilidade, é que toda e qualquer proposta de políticas públicas no Estado do Ceará tenha vinculação aos dez princípios do Pacto Global da ONU e à Agenda 2030, considerando os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e as 169 metas. O avanço é significativo de conscientização nessa jornada, com a participação do governo, corporações, sociedade civil organizada e academia. Hoje, a Federação das Indústrias do Ceará tem um núcleo Fiec-ESG, além de ser uma das federações a acolher o Hub do Pacto Global no Estado. A Academia Cearense tem se organizado em programas de educação para fontes de energias renováveis em todo o Estado, inclusive pactuados prioritariamente por meio da Aliança Cearense para o Conhecimento, colocando-se em linha na tríplice hélice.


A sociedade vai, em conjunto, traduzindo o futuro do Ceará. Exemplo: o Ceará 2050, que é tratado como o Planejamento de Longo Prazo (PLP) do Estado na constituição, subordinando o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) ao PLP, que é um Plano de Estado, e não de governo, para garantir a ética no pacto intergeracional. Os planos de governo têm sido construídos com essa base importante, cabendo ao governante dar as prioridades e estabelecer ações para os mandatos dentro da percepção do que mais assola a sociedade naquele contexto e momento, mas sem perder de vista o médio e o longo prazos. A construção é coletiva e não personalista; os legados alcançam soluções estruturais, não somente para a gestão mandatória ofereci- da pelo processo democrático.


Nesse contexto, a construção de novas fortalezas, que vão além das estruturas físicas, tem seu olhar para o futuro, observando vocações e encontrando nos desafios as oportunidades. Representa mais ainda a força e a resiliência do povo cearense, que, com tantos hiatos, busca explorar novas áreas como o mundo digital, a indústria 4.0, a economia azul, as energias renováveis, a educação transformadora e a cultura que respeita a história, adaptando-se aos novos tempos. Esse cenário, além de essencial para impulsionar a economia, promove o desenvolvimento socioambiental, cobrindo todas as esferas do desenvolvimento sustentável.


A inserção do Estado no mundo digital, por meio de políticas públicas de incentivo à tecnologia, aceleração de startups e formação de mão de obra qualificada, tem impulsionado o crescimento de setores como a tecnologia da informação, o comércio eletrônico e os serviços digitais. Exemplo disso é o Sebrae e o Instituto Iracema Digital, como colaboradores, na Rede de Inovação do Ceará, que tem se tornado uma catalisadora da inovação e tecnologia, visando atrair empresas e profissionais do setor na plataforma dos Faróis e corredores digitais.


Outro avanço em andamento é o caminho da indústria 4.0, caracterizada pela integração de tecnologias digitais nos processos produtivos, que representa uma oportunidade para a modernização e o aumento da competitividade das indústrias cearenses. Ressalto o Observatório da Indústria, com um banco de dados de apoio à indústria cearense, que ultrapassa fronteiras. A implementação de soluções, como a internet das coisas, a Inteligência Artificial (IA) e a manufatura aditiva, tem permitido ganhos de eficiência, redução de custos e desenvolvimento de novos produtos.


Setores tradicionais, como o têxtil, o calçadista e o de alimentos e bebidas, têm buscado investir na nova ordem para estarem competitivos no mercado nacional e internacional.


O avanço da IA está nos holofotes e já foi responsável por remodelar diversos setores da economia. Os processos e a análise de dados evoluem de forma galopante e cada vez mais customizada. Tais avanços, quando aliados às expectativas dos órgãos reguladores, antecipam questões de segurança e concorrência, tornando-se um diferencial no mercado. Estamos, sem dúvida, diante de uma revolução impulsionada pela IA, que oferece inúmeras possibilidades para as empresas que souberem aproveitar essa onda de transformação digital. Cabe ressaltar, no entanto, que esse mar de possibilidades só pode ser plenamente aproveitado com uma compreensão clara de como a tecnologia pode servir de diferencial estratégico para os negócios e para a sociedade.


Neste momento, a IA pode rever os modos de produção, o emprego e a renda. Alguns postos de trabalho serão substituídos por novos postos de trabalho. No entanto, a mudança de época nesta nova era transita da sociedade da informação para a sociedade do conhecimento. A nexologia de Van Vogt reflete quando o absurdo esmaga toda a nossa compreensão do racional. O novo conhecimento precisa ter uma compreensão sistêmica e que consiga interconectar múltiplas dimensões para oferecer soluções profissionais aos novos desafios. Não basta o especialista sem essa visão “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach.


Saindo do território terrestre e indo para além da caixa (out box), entramos no Maretório, ou seja, na Economia Azul, que envolve o uso ordenado e sustentável dos recursos marinhos e costeiros e emerge como uma importante vertente a ser explorada no contexto do Ceará. A Economia Azul pode ser integrada com os demais setores estratégicos do Estado, como as energias renováveis offshore, a educação e a cultura oceânica, para impulsionar um desenvolvimento econômico e social mais sustentável e diversificado.


No tocante às energias renováveis, o Ceará pode ser encarado como um dos novos “pulmões” do mundo, dado seu imenso potencial para a geração de energia a partir de fontes renováveis, como a solar e a eólica. Com um dos maiores índices de irradiação solar do País e ventos constantes ao longo da costa, o Estado tem se destacado na produção de energia limpa e sustentável. A construção de parques eólicos e usinas solares tem impulsionado a economia local, gerando empregos e atraindo investimentos para a região. Além disso, iniciativas de microgeração distribuída têm permitido que consumidores residenciais e empresariais produzam sua própria energia, contribuindo para a diversificação da matriz energética e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Ainda, os avanços nas tratativas para a produção de hidrogênio verde colocam o Ceará à frente de grandes potências no setor, locais e globais.


O Ceará, nos últimos 15 anos, tem historicamente se destacado na educação e na cultura, que desempenham um papel fundamental nesta nova construção para uma sociedade mais justa e igualitária. Investir em educação de qualidade, desde a educação infantil até o ensino superior, é essencial para formar cidadãos críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI. Além disso, fomentar a cultura local, valorizando as tradições e artes cearenses, é importante para fortalecer a identidade e a autoestima da população. Projetos em andamento, culturais e educativos, como bibliotecas comunitárias, espaços de leitura e oficinas de arte, contribuem para a inclusão social e o desenvolvimento humano.


Apesar dos avanços conquistados, o Ceará ainda enfrenta desafios que precisam ser superados para consolidar a construção de novas fortalezas. Questões como a desigualdade social, a falta de infraestrutura em algumas regiões e a escassez de recursos naturais são obstáculos a serem enfrentados. No entanto, as oportunidades são muitas, e o Estado conta com um povo empreendedor e solidário, disposto a contribuir para o desenvolvimento sustentável da região.


Nesta nova era, a construção de novas fortalezas no Ceará representa não apenas um desafio, mas também uma oportunidade de transformar a realidade do Estado e construir um futuro mais próspero e sustentável para todos os cearenses. A inserção em áreas como o mundo digital, a indústria 4.0, as energias renováveis, a educação e a cultura, juntamente com a Economia Azul, é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico e social, promover a inovação e preservar o meio ambiente. Com a união de forças e a determinação do Governo do Ceará, corporações, sociedade civil organizada, academia e fundamentalmente o povo cearense e sua resiliência, é possível construir uma sociedade mais justa, inclusiva e equitativa, na qual todos tenham a oportunidade de prosperar e viver com dignidade.



Célio Fernando Bezerra Melo, economista